Olá, olá... Tudo bem, queridos leitores? Então que hoje é dia de conferir mais uma entrevista inédita aqui no blog, olha que bacana? E o nosso convidado de hoje é o queridíssimo ator, Ed Moraes, que aceitou vir aqui compartilhar um pouco da sua carreira e experiências que ele teve ao longo os anos. Bora conferir?
Bruna Jones: Você possui uma carreira de mais de 20 anos como ator, antes da gente falar um pouco mais sobre isso, vamos voltar lá no inicio, sim? Qual foi o seu primeiro contato com essa área e o que te motivou a buscar uma carreira nela?
Ed Moraes: Parece mentira ou coisa de filme. Estava em 1996, aos 14 anos de idade buscando no jornal amarelinho de classificados de empregos aqui na periferia de São Paulo onde morava, meu primeiro trabalho pra ajudar os meus pais que estavam numa situação delicada financeiramente. Vi um anúncio Curso de Teatro, Cinema e Televisão e fui atrás. Quando pisei a primeira vez no palco, algo dentro de mim se abriu e não consegui viver mais sem aquilo. O curso era um golpe caça níquel, mas o meu encontro com o palco e as artes era real. Foi amor a primeira vista. Foi onde tudo começou e acabou não tendo outra saída.
Bruna Jones: Acredito que carreira nas artes de maneira geral, costumam ser um pouco mais difíceis no inicio, seja por questões de oportunidades ou até mesmo financeiras, dito isso, como foi o inicio da sua carreira? Quais dificuldades você encontrou até conseguir se firmar?
Ed Moraes: Sem dúvida nenhuma. No Brasil, para quem vem da periferia como eu onde não teve acesso a cultura, uma educação pública boa e nem condições de pagar cursos, as dificuldades são infinitamente maiores. Comi o pão que o diabo amassou literalmente. Tive que parar de fazer curso de teatro pra sobreviver uma época. Era trabalhar pra comer ou não estaria nem vivo pra correr atrás desse sonho. A falta de oportunidade é imensa. E digo que num outro nível, 20 anos depois, ainda existem MUITAS dificuldades e pouquíssimas oportunidades até hoje. Quase nenhum produtor de casting de fora costuma ir ao teatro em São Paulo pesquisar elenco. Fica rodando entre os mesmos da bolha carioca. Felizmente, recentemente se abriram para os irmãos do Nordeste e viram que gente desconhecida podem fazer um trabalho impresso. Já foi um grande avanço. Mas ainda existe muita gente incrível que tá praticamente passando fome ou desistindo das artes. No Brasil é cada vez mais desolador ser artista sem grande visibilidade na televisão ou Streaming.
Bruna Jones: Você é um ator que veio do teatro e teve a oportunidade de estar em grandes palcos e adaptações, ainda assim, muita gente ao redor do mundo tem a ideia errada de que se você não está fazendo televisão, então você não está "no auge", mas eu acredito que o teatro é a base de tudo que vem pela frente, você também acredita nisso?
Ed Moraes: O teatro é a base de qualquer artista. Ator tem muito por aí. Inclusive qualquer ex "BBB", influencer ou cantor estão protagonizando novelas, sendo atores momentaneamente. Agora artista não. Artista é outra parada. E o grande público brasileiro não tá nem aí pra artista. Ele gosta de famoso... De celebridade. De gente com milhões de seguidores. A cultura no país nunca vai mudar se não aliar a educação. É preciso educar desde cedo. Talvez daqui várias gerações algo possa estar melhor. Espero deixar um mundo melhor para os nossos que ficam.
Bruna Jones: Aliás, falando em teatro, já aconteceu alguma coisa inusitada com você no palco que você teve que contornar sem a plateia perceber que estava fora do roteiro?
Ed Moraes: Já aconteceu muita coisa comigo no palco. Esquecer texto, se machucar em cena, sangrar, cair, entrar em cena com joelho fraturado e aguentando milagrosamente sem mancar, inverter textos, projeção não funcionar, companheiro perder o tempo da fala ou entrada. Mas o mais inusitado foi alguém quase vomitar com o texto que estava dizendo de tanto que mexeu com ela o meu discurso. Não tem preço que pague.
Bruna Jones: Artistas tendem a ser muito perfeccionistas com seus próprios trabalhos e isso muitas vezes acaba atrapalhando alguns projetos. Você costuma ser mais autocrítico? Se sim, como você lida com isso?
Ed Moraes: Essa pergunta é sensacional e resume bem que é Ed Moraes. Eu sou completamente perfeccionista. Busco excelência em tudo o que eu faço. Tanto que nos últimos 13 anos eu fiz poucas peças por não topar fazer qualquer coisa nos palcos. Desde 2010 botei na cabeça se for pra fazer qualquer coisa no palco vou procurar um emprego CLT em qualquer área. Ou eu faço algo pensando em transformar o outro ou nem saio de casa. Tanto que estou desde 2019 buscando uma peça nova e não encontro nenhum texto potente pra levar ao palco. Já desisti de 3 projetos nesse meio tempo. O mundo tá acabando, guerras, catástrofe climática, pandemia etc e eu vou aos palcos pra falar um texto clássico, como uma tragédia grega ou Shakespeare? Não faz nenhum sentido se não tiver um adaptação muito bem feita ao nosso tempo. Ao contrario de muita gente que leva qualquer coisa ao palco. Acho isso de uma irresponsabilidade tremenda e uma falta de consciência. Mas como eu disse: artista mesmo são poucos.
Bruna Jones: Ao longo da sua carreira você já teve a oportunidade de interpretar diversos tipos de papéis, desde personagens mais sérios e até mesmo alguns mais voltados para o humor. No geral, existe algum tipo de personagem que seja o teu preferido na hora de interpretar?
Ed Moraes: Eu amo personagens que me desafiem a sair do lugar comum. Que me traga algo novo. Não me interessa mais fazer comedia rasas que não dizem nada de importante ou causem reflexão. Sou um ator camaleônico. Amo me transmutar. De ficar irreconhecível. Tanto que fiquei 7 anos em cartaz com o espetáculo Limpe todo o sangue antes que o carpete, de Jô Bilac e pouca gente sabe que sou eu, por estar irreconhecível em cena. Mas ultimamente tenho um objetivo. Quero personagens dramáticos. Profundos em camadas. Que não sejam chapados. Que tenham curvas e não sejam apenas pequenas participações. Trabalhos que realmente consiga mostrar o meu talento. Quero fazer o galã. Quem disse que só a beleza padrão que pode? Gente excêntrica não ama, não se relaciona, não arrasa corações por aí? 😂 Tive uma fagulha de personagem "meio" vilão e engraçado na série "Notícias Populares" e sei que posso fazer algo maravilhoso nessa linha. Pode parecer prepotência, mas depois de muitos anos de terapia estou pronto pra dizer isso: Eu tenho cacife pra ser um protagonista de novela ou qualquer grande série em streaming ou filme. Trabalho como ator há 20 anos, sabe quantas vezes fui chamado pra um teste pra novela nesses 20 anos? Nenhuma. Isso resume bem a vida de ator no Brasil.
Bruna Jones: Na profissão de ator, você acaba interpretando papéis que as vezes estão completamente fora da sua realidade ou com atitudes das quais você pessoalmente não concordaria e muitos atores acabam buscando exatamente esses tipos de papéis. O que você pensa sobre isso? Encararia fazer algo completamente fora da sua zona de conforto?
Ed Moraes: Essa inclusive é a minha busca nos projetos. Eu não julgo os meus personagens se o que eles fazem ou falam é certo ou errado. Não cabe a mim julgar nada. Eu busco entendê-los profundamente e levo ao público para que eles digam. Eu não preciso ser um psicopata ou assassino pra fazer um. Diferente de outras pautas reivindicadas ultimamente que são legítimas. Meu sonho é fazer um serial killer. Sabe aqueles bem internalizados que vc convive e nem imagina que seria capaz de fazer um absurdo desse? Então, é esse o meu personagem sonho. Além do Antônio, o português marido de Luísa Mahin e pai do Luiz Gama que o vendeu por dívidas. Li o livro "Um Defeito de Cor" de Ana Maria Gonçalves ele mudou a minha vida. Aliás, a Globo prepara uma série de adaptação a essa obra. Eu nasci pra fazer esse personagem. Sabe quando vc tem certeza que os 20 anos só me serviram para me preparar pra esse papel? Então, nem sei pra quando a Globo vai levar Um defeito de Cor as telas, mas sei o que esse personagem é meu ninguém tira ele de mim. Que fiquei registrado aqui para Rede Globo de televisão: Esse personagem é meu.
Bruna Jones: Falando em personagens, como costuma ser o seu processo de trabalho na hora de construir um personagem?
Ed Moraes: Com o passar dos anos os métodos vão mudando. Hoje eu busco menos a questão física na construção do personagem e me debruçar completamente na questão psicológica e comportamental dele. Vou construindo por camadas após um estudo aprofundado de imersão. Eu estudo muito. Sou aquele famoso CDF em tudo o que faço. Mas cada trabalho é um processo. Ele mesmo aponta as demandas. Eu escuto MUITO a minha intuição e sigo sempre por ela. Meu método é a minha intuição (após muito estudo óbvio).
Bruna Jones: Hoje em dia os realities acabaram se tornando tão populares na televisão quanto as novelas eram algumas décadas atrás. Existem diversos tipos: Confinamento, culinária, musical, sobrevivência, dia-a-dia familiar, etc... Se você fosse convidado para algo do tipo, participaria?
Ed Moraes: Hoje eu acredito que de forma alguma toparia participar de qualquer tipo de reality show. Mas eu cheguei numa fase da vida que nunca digo nunca, rs. Cada um sabe onde o calo aperta.
Bruna Jones: Já estamos quase chegando ao final do ano, mas ainda assim, tem novidades vindo por ai? Algo que possa compartilhar com a gente?
Ed Moraes: Esse segundo semestre foi muito importante pra mim. Acabei de estrear 1 mês atrás a série Notícias Populares no Canal Brasil e Globoplay + canais e estreio um projeto muito especial chamado: "Betinho: no fio da navalha" que chega no Globoplay 01/12 e futuramente acredito que também estará na televisão aberta. Esse é sem dúvida o projeto mais especial nesses meus 20 anos como ator. Veio como um prêmio de celebração deste momento. Espero que o público se apaixone como eu pela obra. Interpreto Herbert Daniel que é um dos nossos brasileiros que fizeram história pela luta pelo nosso país e nossa democracia. Quase um herói anônimo. O último exilado político a voltar para o Brasil e um dos principais nomes pela conquista da mediação gratuita da medicação para HIV no Brasil. Inclusive, participei também de documentário sobre as memórias de Herbert Daniel que estreia em 2024, falando um pouco da minha experiência e contato com esse papel nessa série importante da Globo. Por agora é isso que posso revelar. Em breve mais novidades.
Bacana a nossa conversa, não é mesmo? E ele ainda deixou um recadinho antes de ir, olha só: "Obrigado as pessoas que consomem arte no Brasil. Que vão ao teatro. Que vão ao cinema prestigiar filmes brasileiros. Que consome séries brasileiras. Para vocês: minha eterna gratidão e um beijo enorme. Vocês podem me seguir e chamar no Instagram que eu adoro interagir: @edmoraesed" e se vocês quiserem mais informações de contato ou sobre a carreira dele, basta conferir AQUI o seu site, beleza?
Espero que vocês tenham gostado da entrevista de hoje, em breve retornarei com novidades. Continuem acompanhando o blog para não perder nenhuma entrevista nova e nem os nossos projetos com o "BBRAU". Lembrando que quem quiser continuar acompanhando mais nas redes sociais, basta procurar no Facebook, Instagram e no Twitter por @odiariodebrunaj, combinado?