sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Bruna Entrevista: 11x74 - Álvaro Viana


Olá, olá... Tudo bem, queridos leitores? Então que hoje é dia de conferir mais uma entrevista inédita aqui no blog, olha que bacana? Desta vez trazendo alguém que já foi várias vezes pedido por leitores, estou falando do queridíssimo Álvaro Viana. Convidei e ele aceitou vir aqui conversar um pouco e relembrar algumas histórias da época em que era go go boy e posou na "G Magazine", além de contar um pouco sobre o que anda fazendo hoje, vem conferir!

Bruna Jones: Você começou a sua carreira como modelo ainda muito jovem, além de ter sido dançarino de clubes e até mesmo fazendo fotos de nudez, mas antes da gente falar melhor sobre isso, vamos voltar lá no começo... Como foi que surgiu essa vontade e oportunidade de trabalhar com o meio artístico?
Álvaro Viana: Em primeiro lugar meu muito obrigado pela entrevista, neste ano o ensaio completou 20 anos e até hoje as pessoas lembram do menino nu lavando o Mustang branco (rs). Esse desejo de dançar na noite surgiu de um dilema: Na época eu fazia ballet clássico e tinha a pretensão de me tornar bailarino ou coreógrafo, mas ao mesmo tempo estava apaixonado pela musculação na academia e o meio da educação física e chegou um momento em que os biótipos não combinavam, ou malhava ou dançava, foi aí que numa noite fui a uma boate gay na Bela Cintra e fiquei fascinado com os gogo boys que dançavam nos “queijos”, por hora com sunga, por hora como personagens e todos muito malhados e sensuais foi neste momento que decidi que queria fazer aquilo: Trabalhar na noite, pois unia as duas coisas que queria (corpo e dança). Só que a disputa por um espaço em São Paulo era complicado porque vários strippers famosos meio que dominavam e monopolizavam as casas noturnas, foi aí que um amigo meu que treinava na mesma academia me chamou para um teste que ele iria fazer numa boate em Campinas que era uma das maiores do Brasil; Fomos, chegando lá perguntei se poderia fazer o teste e como resultado o meu amigo reprovou e eu passei. Dançando na The Club como fixo quem abriu mesmo as portas para a visibilidade que eu tive na noite foi o Paulo Balderramas que na época personificava a Drag Queen Rubya Bittencourt - uma das mais famosas do Brasil -, foi o Paulo que como diretor artístico da The Club me deu todas as oportunidades, não só como dançarino mas como stripper fazendo parte do casting fixo de shows com dublagens, strippers, festas que ultrapassaram os muros da The Club e começaram a me projetar para todo interior paulista. O Paulo mandava eu fazia, rs... 

Bruna Jones: Em 2001, você acabou fazendo um ensaio de nudez para a "G Magazine", apesar de ser um ensaio interno, acredito que isso tenha movimentado um pouco a sua vida pessoal, não é mesmo? Mas diferente de outros modelos, foi você quem buscou a oportunidade e demonstrou interesse no ensaio. O que te motivou a querer fazer essas fotos?
Álvaro Viana: Como a The Club estava no auge colocando mais de 5 mil pessoas naquele sítio maravilhoso por final de semana, as festas temáticas organizaras pela Rubya e a Helloa Meirelles (também Drag Queen) começaram a ficar famosas pelo casting de gogos que dublavam nos seus shows, abriam pista (isso era muito difícil pois eram as drags que faziam essa parte) e o primeiro famoso que posou foi o Maikon Milani - que fez aquele ensaio beijando o Alexandre Frota - o Maikon de uma certa forma atraiu os olhares para nós em Campinas e como eu estava despontando na época, o Bauer - fotógrafo da "G Magazine" - me apresentou ao Paulo Branco que era produtor da revista e logo fechamos o ensaio que seria uma espécie de fetiche: Um homem lavando um carro. Isso veio muito de encontro com o que eu queria no momento pois posar numa revista de fama nacional - a "G Magazine" quebrou todas as barreiras e paradigmas na época ao trazer e vender o nu masculino com classe e sensualidade. Posar para a revista me traria a visibilidade nacional que até então eu tinha somente no interior de São Paulo e foi o que aconteceu, com a "G Magazine" eu viajei o Brasil inteiro tirando a roupa, ganhei o troféu "Abalo" de melhor Gogo boy do Brasil e no ano seguinte fui eleito o melhor stripper do Brasil, foi nesse momento que a noite Paulistana abriu as portas para mim, por um acaso de sorte o Paulo Balderramas me levou para fazer um show em Bauru e lá eu conheci a Thalia Bombinha e a Pandora Bolt (um gênio! In memorian) que me apresentaram ao Victor dono da Blue Space (um pai) e da The Club acabei indo como fixo para a Blue Space. Além do mais posar para uma revista que revolucionou o mercado editorial, fez os gays e mulheres irem até a banca de jornal e comprar a revista sem medo, e estar entre os homens mais bonitos do Brasil sempre foi motivo de orgulho para mim, sem contar o fato de que muita gente escreveu para a redação pedindo para que eu fosse a capa no lugar do Théo Becker. 

Bruna Jones: Na época este tinha sido o seu primeiro ensaio nu (após esse, você chegou a realizar outros ensaios para outras revistas), imagino que nos bastidores as fotos vão sendo realizadas em etapas, então a pergunta é: Como foi para você quando chegou o momento de tirar as fotos nu de fato? Foi mais fácil fazer os ensaios seguintes?
Álvaro Viana: Quando você é stripper é meio que normal chegar e tirar a roupa, até hoje eu sou o vizinho que anda pelado em casa (rs...) quando dançava eu fiz dezenas de despedidas de solteira, praticamente todo final de semana antes de dançar eu tinha duas ou três despedidas ou festas do pijama, ou eventos só para mulheres onde tirava a roupa. Nos ensaios que fiz tanto para a "G Magazine", quanto para "Homens", quanto para as publicações americanas o processo foi relativamente fácil: O fotógrafo dirigia as posições, o diretor brifava a situação, eu ensaiava, voltava, me concentrava, ficava excitado e quando finalmente ficava ereto era um corre com cliques, luz e posições até relaxar de novo. Isso durava as vezes uma tarde inteira ou no caso da "Homens" que foi num motel em São Conrado com outro gogo boy foi um dia inteiro. 

Bruna Jones: Apesar de na época ainda ser apenas o começo da internet e as pessoas precisarem realmente comprar a revista para poder ver as fotos, hoje em dia com a digitalização de arquivos, elas estão disponíveis para qualquer um, a qualquer momento. Como você se sente sabendo que mesmo 20 anos depois, essas fotos ainda podem ser vistas, inclusive sendo de fácil acesso?
Álvaro Viana: Quando a revista saiu eu fui correndo na banca de jornal e comprei 10 exemplares e mandei pelo correio para todas as mulheres da minha família inclusive minha avó que morava no interior em Pindamonhangaba. Mesmo sabendo que elas seriam digitalizadas e eternas, eu sempre achei arte - você esculpir seu corpo e eternizar de alguma forma, não deixa de ser um legado - mesmo tendo excitação que mesmo assim na revista não tinha vulgaridade. Eu já tinha intenção de fazer educação física mas sempre orientado para o fitness de academias e nunca educação física escolar então isso não me preocupava. Eu recebi duas propostas bem tentadoras para a indústria pornô; uma brasileira e outra americana que tinha os homens mais espetaculares do mundo inteiro, mas como não queria seguir a carreira de ator e também sabia que sim o pornô me traria problemas, acabei recusando. 

Bruna Jones: Andando com o sucesso da revista e com a sua carreira como dançarino nas boates, profissionalmente você foi crescendo cada vez mais e ganhando destaque nos clubes, desempenhando papéis ao lado de outras performers e eventualmente se tornando o nome referência da época. Como foi para você essa fase de adaptação e mudanças de realidades, inclusive para não acabar perdendo o seu foco?
Álvaro Viana: Eu fui o primeiro gogo boy assumidamente gay a ter destaque na noite paulistana. Por incrível que pareça tinha preconceito dentro do próprio meio gay e eu fui quebrando isso com carisma, talento e muito discurso e assim fui ganhando espaço. Como tinha o lado artístico logo fui fazendo dupla com todas as grandes drags do momento e me tornando indispensável nos shows a ponto das minhas fotos fazerem parte dos flyers de divulgação das casas. Na pré-história das boates, as drags eram as atrações, depois vieram as drags performáticas, depois os gogo boys, agora são os DJs as grandes estrelas. Eu peguei e fomentei a era de ouro dos Gogo boys. Na realidade você não quer sair nunca daquele mundo de glamour, mas no nosso caso entram rapazes mais jovens e tudo tem prazo de validade, eu fui fazendo a educação física respeitando justamente esse prazo. Como não queria virar segurança de boate, eu resolvi estudar e concluir minha segunda faculdade que é a paixão da minha vida. Não foi fácil porque tem muito ego em jogo mas sabia que se insistisse não daria certo. 

Bruna Jones: Com essa carreira, você acabou tendo a oportunidade de fazer bastante coisa interessante, seja idas em programas televisivos, capas de revistas ou até mesmo viagens a trabalho... Foi uma boa experiência na sua vida?
Álvaro Viana: Eu fiz shows em casas de Manaus até Porto Alegre. Viajei o Brasil inteiro tirando a roupa, sendo fetiche de muita gente que chegava e dizia que tinha a revista, que queria autógrafo na mesma, que queria pagar almoço, que queria fazer programa, rs... Teve um cara em Manaus que queria me dar um carro se eu ficasse mais uma semana lá. Em Recife além da casa que me contratou eu fiz umas dez despedidas de solteira, no sul teve uma casa que no camarim preparou uma mesa com frutas, bebidas, toalhas - tipo celebridade - só tenho lembranças boas das viagens. Um cara em Cuiabá tirou um anel de ouro e colocou no meu dedo no meio do show. Em 2001 o Silvio (outro pai) dono da The Club bancou um trio elétrico na época que a Parada Gay de SP não chegava a um milhão e estampou uma foto imensa do casting da casa e eu estava lá. Aquilo foi inesquecível. 

Bruna Jones: Hoje em dia a televisão basicamente gira em torno de realities. Você por já ter vivido uma experiência de vida pública, é capaz de acabar recebendo um convite para reality show em algum momento, se você fosse convidado para ficar confinado em "A Fazenda", "BBB" ou algo do tipo, você aceitaria retornar para a mídia?
Álvaro Viana: Tanto o "BBB" quanto a "A Fazenda" mudaram bastante durante os anos e hoje existem profissionais que participam desses realities, mas confesso que se tivesse um convite iria sim. 

Bruna Jones: Nos últimos anos você acabou transitando de carreira, passando a atuar como personal trainer, além de auxiliar na nutrição e outras áreas da saúde e bem estar. O que motivou essa mudança?
Álvaro Viana: Minha primeira formação foi em publicidade e trabalhei um tempão com marketing com o segundo trabalho que era a noite, a vontade de trabalhar com fitness aumentou e como sabia do prazo de validade de ser stripper, acabei planejando a migração para academia. Meu primeiro trabalho em academia foi justamente na academia que treinava. Agora estou dando um novo salto fazendo minha terceira graduação que é nutrição, assim posso melhorar e valorizar minha prestação de serviço aqui no Rio onde as pessoas respiram atividade física. 

Bruna Jones: A gente vive hoje uma era um pouco complicada com as redes sociais, na qual pessoas completamente despreparadas, mesmo não tendo formação acadêmica para isso, ficam dando "ensinamentos" sobre treinamentos e alimentação. Você poderia explicar aos leitores os riscos de seguir orientações sem saber se a fonte é apta para isso?
Álvaro Viana: Infelizmente não existe um órgão efetivo que puna de forma mais severa esse monte de influenciadores e blogueiros fitness que em nada agregam na qualidade de vida das pessoas. Pessoas que usam a sua experiência própria divulgando dietas milagrosas. Isso é crime. Mas até hoje nunca vi o CONAR que é o órgão que pode regulamentar esse tipo de publicidade tirar ou excluir a conta de uma pessoa deste perfil. Para fazer seu programa de treinos procure sempre um profissional de educação física, assim como um nutricionista para montar a sua dieta. Quando buscamos um médico não escolhemos alguém da internet, o mesmo se aplica a nós. 

Bruna Jones: Como eu disse anteriormente, hoje você trabalha como personal, mas ainda assim, tem alguma novidade vindo pela frente? Algo que você gostaria de compartilhar com os fãs?
Álvaro Viana: Gostaria de fazer um novo ensaio, mas pela minha profissão, preciso que ele tenha uma estética mais fitness e sensual. Mostrando mais o trabalho do corpo e não tanto sexualidade. Se fosse nos Estados Unidos ok, lá você entra no Instagram da galera e tem foto de batizado misturada com post de balada com todo mundo se pegando. Aqui vivemos dias tensos onde os conceitos estão todos misturados, onde a tua cor incomoda, tua preferência sexual incomoda, até a tua felicidade incomoda. Infelizmente vivemos num país repleto de demagogia barata onde as pessoas preferem julgar o próximo do que a si próprio. Nossa comunidade não deve nunca baixar a cabeça e se impor sempre. 

Bacana a nossa conversa, não é mesmo? E ele ainda deixou um recadinho antes de ir, olha só: "Eu quero agradecer o carinho, a lembrança e a felicidade que me proporcionam toda vez que lembram do ensaio. Nesses 20 anos eu não li sequer uma crítica negativa sobre ele e eu tenho tanto, mas tanto orgulho deste trabalho que me retroalimentam até hoje." e se você quiser continuar acompanhando ele nas redes, ele também avisa: "Minha conta no Instagram é @alvaro_jr_personaltrainer. Essa conta é nova, a antiga com mais de 50 mil seguidores foi rackeada por um cara na Turquia que deve estar vendendo minhas foros em Euro (rs). Não consegui resgatar a conta." 

Espero que vocês tenham gostado da entrevista de hoje, em breve retornarei com novidades. Continuem acompanhando o blog para não perder nenhuma entrevista nova e nem os nossos projetos com o "BBRAU". Lembrando que quem quiser continuar acompanhando mais nas redes sociais, basta procurar no Facebook, Instagram e no Twitter por @odiariodebrunaj, combinado?

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