terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Bruna Entrevista: 12x49 - Marcello Picchi


Olá, olá... Tudo bem, queridos leitores? Então que hoje é dia de conferir mais uma entrevista inédita aqui no blog, olha que bacana? E o nosso convidado de hoje é o queridíssimo ator Marcello Picchi, que possui uma carreira incrível e acabou topando vir compartilhar com a gente um pouco da sua história e experiências que ele teve ao longo dos anos. Bora conferir o nosso papo?

Bruna Jones: Hoje você já possui uma carreira sólida e consagrada como ator, fazendo parte de grandes elencos da televisão e cinema. Mas antes da gente falar mais sobre isso, vamos voltar ao começo, sim? Qual foi o seu primeiro contato com as artes cênicas e o que te motivou a buscar uma carreira nela?
Marcello Picchi: Eu comecei a me interessar pela arte de interpretar quando ainda estava em São Carlos, minha cidade natal, e eu fazia serviço militar e tocava numa banda que foi convidada para inaugurar o teatro municipal da cidade, ai estava com 18 anos e sobraram alguns lugares, nos convidaram para assistir e foi a primeira vez que vi uma peça de teatro, que inclusive era com o Tarcísio Meira e ai me encantei com aquilo tudo, no dia seguinte estava lá no teatro perguntando como que fazia parte daquilo, acabaram me colocando num grupo de teatro amador, mas era um teatro amador muito bom, uma época muito efervescente, entre os anos 69 e 70, cidade do interior, mas muito rica e importante. Nós amadores ajudávamos em tudo, bilheteria, montar cenário e eventualmente substituir algum ator, tinha uma parceria muito boa entre os profissionais e amadores, com isso eles nos davam palestras e cursos em troca. Em um desses cursos, fui revelado para fazer um papel principal numa peça que depois foi montado profissionalmente em São Paulo, acabei sendo catapultado do teatro amador para o profissional, fiquei uns quatro anos no teatro amador onde fiz a minha grande formação teatral e fui para São Paulo, onde estreei nesse grande clássico "Pena Ela Ser o Que é" de John Ford em 1970, de lá pra cá não parei, fui em 1975 para a TV Tupi em São Paulo, depois abriu um teste no Rio de Janeiro para a TV Globo, eu já tinha feito umas quatro novelas antes de ir para a Globo, onde fui fazer um teste com o Walter Avancini, Daniel Filho e outros diretores e acabei passando, sendo contrato imediatamente, só que eu não podia ficar, pois estava em temporada em São Paulo com a Greta Garbo, "Quem Diria, Acabou no Irajá" com o Raul Cortez também e com isso perdi a oportunidade de estar em "Gabriela" que seria a minha primeira novela na emissora, eu só consegui voltar ao Rio quando consegui um substituto para a peça em São Paulo e então estrelei a minha primeira novela que foi o "Bravo" de Janet Clair, a primeira novela colorida da Rede Globo, interpretei o filho do Carlos Eduardo Dolabella e neto do maravilhoso Grande Otelo, numa novela muito longa que falava sobre um maestro. Depois dessa novela vieram outras vinte novelas na Rede Globo, novelas na Manchete, na Record, no SBT, enfim... Trabalhei em todas as emissoras.         

Bruna Jones: A gente sabe que construir uma carreira artística no Brasil é mais complicado, principalmente no início. Como foi o início da sua jornada? Quais foram as principais dificuldades que você encontrou pelo caminho?
Marcello Picchi: As principais dificuldades que a gente encontra na carreira artística é a continuidade, você as vezes fica entre fazer algo comercial onde vai dar dinheiro e nome, e uma coisa onde você vai aprender e desenvolver o seu talento em uma coisa mais artística. As vezes a gente acaba escolhendo uma coisa mais artística, uma coisa mais "nobre" digamos assim, mas que te prejudica na popularidade, pois você não tem o ibope da televisão, ou seja, as vezes você escolhe o teatro sendo que na televisão você poderia ter uma carreira mais longa, com mais convites, as vezes esses convites fluem mais para quem faz televisão do que pra quem faz teatro... Eu não tenho muito do que reclamar pois sempre tive muito trabalho, mas acredito que essa é uma das principais dificuldades de um artista, é se manter empregado. Pessoalmente eu não encontrei qualquer dificuldade, a minha carreira foi fluindo muito bem, do teatro para a televisão, pro cinema depois, sempre muito bem aceito e absorvido pelo mercado, até que eu meio que parei de aceitar convites e fiquei interessado em estudar, onde fui fazer a faculdade de filosofia que me tomou muito tempo e em seguida fiz licenciatura que me fez sair um pouco das telas e dos palcos. Gostaria de estar mais atuante como ator, mas acho que foi uma coisa que me dei, um presente, pois como tive sucesso no trabalho muito cedo, assim como filhos, não tive como parar para fazer uma faculdade e tudo mais, então aos 60 anos eu comecei a me dar esse direito.     


Bruna Jones: Você é um ator que veio do teatro e teve a oportunidade de estar em grandes palcos e adaptações, ainda assim, muita gente ao redor do mundo tem a ideia errada de que se você não está fazendo televisão, então você não está "no auge", mas eu acredito que o teatro é a base de tudo que vem pela frente, você também acredita nisso? E já aconteceu alguma coisa inusitada com você no palco que você teve que contornar sem a plateia perceber que estava fora do roteiro?
Marcello Picchi: Essa pergunta me lembrou a Eva Todor, rs.. Eu trabalhei com ela numa peça clássica, mas ela não decorava texto, ela só queria saber o que ela iria fazer... Ela entrava em cena e algumas vezes já contava o final da peça, imagina? rs... A gente tinha que se virar nos trinta para arrumar o assunto, rs... Mas foi um grande aprendizado pra mim trabalhar com a Eva Todor, o Grande Otelo, esse pessoal das antigas.    

Bruna Jones: Quando você começou a sua carreira, as coisas eram completamente diferente do que é hoje em dia. Atores que conquistavam o titulo de galãs como você, recebia diversas cartas de fãs, elas esperavam na porta de emissoras, eram capas de revistas, etc... Então, a pergunta é: Como foi para você chegar nesse universo da televisão e ter que lidar com esse tipo de "assédio" de fãs, mídia, ter  a sua intimidade exposta para o Brasil? 
Marcello Picchi: Lidar com o assédio das fãs nunca foi muito fácil pra mim, pois não era a ideia que eu tinha sobre ser ator. A ideia que eu tinha era sobre a qualidade de representar, o talento, a performance em si. Quando comecei a ser assediado pelas fãs e pela mídia até me assustei, eu nem sabia que era bonito e que isso levaria em conta, enfim... Eu meio que queimei essa etapa da minha vida, nunca valorizei isso... Hoje em dia eu acho que eu poderia ter aproveitado mais, ganhado mais e ser mais beneficiado, mas era uma coisa muito nova, eu não fui preparado para isso, fui preparado para ser um ator e não um galã.     

Bruna Jones: Artistas tendem a ser muito perfeccionistas com seus próprios trabalhos e isso muitas vezes acaba atrapalhando alguns projetos. Você costuma ser mais autocrítico? Se sim, como você lida com isso? 
Marcello Picchi: De fato, eu costumo ser muito critico comigo mesmo e bastante perfeccionista, tanto que raramente eu vejo um trabalho meu em audiovisual ou assisto um programa ou filme meu, quando assisto é sempre uma tortura, rs... Eu até prefiro fazer teatro pelo fato de não ter como a gente ver, rs...


Bruna Jones:
 Ao longo dos seus mais de 50 anos de carreira, você já teve a oportunidade de interpretar diversos papéis diferentes. Como costuma ser o seu processo criativo quando recebe algum roteiro novo? 
Marcello Picchi: Eu sou um ator antigo e adepto ao método Stanislavski, que é procurar recriar o mundo interior da personagem, aquilo que ela não fala, que está implícito e ela não diz, todos esses monólogos interiores da personagem são muito importantes pra mim na criação da personagem.   

Bruna Jones: Entre os personagens que você teve a possibilidade de interpretar, teve algum que acabou sendo mais difícil de compor ou de se relacionar?
Marcello Picchi: Não teve um personagem mais difícil em especial, todos foram muito difíceis no sentido do cuidado, da elaboração, do aperfeiçoamento que nunca para, quando é teatro até o último dia de espetáculo você está buscando... Isso torna difícil, mas não no sentido de impossibilidade, mas no sentido de riqueza de detalhes, de cuidado...   

Bruna Jones: Seu projeto mais recente é o "Mussum, o Filmis" que chega aos cinemas agora em novembro. Como foi para você fazer parte deste projeto? Pode adiantar alguma coisa sobre o seu personagem? 
Marcello Picchi: Meu personagem é uma participação pequena, porém, como todos os atores convidados fazendo participações afetivas... É um projeto maravilhoso ligado ao movimento negro, engajado, que é uma coisa que nós que somos atores progressistas gostamos e agradecemos por poder trabalhar em um projeto como esse. Eu faço um personagem que foi o Milton Carneiro, que eu conheci e que na época foi um grande comediante, empresário e diretor, foi muito emocionante no dia da filmagem, ver as pessoas caracterizadas pois se trata de um passado recente no qual eu vivenciei, foi até assustador ficar ali com o pessoal caracterizado. Fiz um filme dos Trapalhões que se chama "Escola Atrapalhada" que passa nas férias e eu fazia um professor de educação física ligado ao Supla e a criançada adora, enfim... Eu adorei e estou grato por ter sido chamado para fazer esse filme e adorei o resultado, eu estou tão bem que nem me reconheci, rs... Fiquei questionando quem era o ator e era eu, rs... Foi genial isso! É um ótimo sinal quando isso acontece. rs... 

Bruna Jones: Hoje em dia os realities acabaram se tornando tão populares na televisão quanto as novelas eram algumas décadas atrás. Existem diversos tipos: Confinamento, culinária, musical, sobrevivência, dia-a-dia familiar, etc... Se você fosse convidado para algo do tipo, participaria?
Marcello Picchi: Eu não acho que gostaria de participar de um reality qualquer não, isso é uma coisa do mundo moderno do qual eu não consigo assimilar muito essa exposição da intimidade, esse strip-tease emocional, que nem precisa ser somente nos realities, isso já acontece nas redes sociais, como o Facebook e Instagram, onde as pessoas falam da vida pessoal e não tem diferença do que é intimo do que é público. Eu sou de outra época, me desculpe.   

Bruna Jones: Já estamos quase chegando ao final do ano, mas ainda assim, tem novidades vindo por ai? Algo que possa compartilhar com a gente?
Marcello Picchi: A novidade que eu gostaria de compartilhar é que fiquei muito feliz de participar do filme "Mussum, o Filmis", fiquei muito feliz em participar de um filme tão bom e engajado no movimento negro, que é uma coisa da qual sou adepto e me senti muito orgulhoso e emocionado de fazer o filme, ele fala de um passado que também é recente, fala de pessoas com as quais já trabalhei, convivi com o Mussum, com o Chico Anysio, o Sherman, com aquele pessoal todo, inclusive o Milton Carneiro, que é o personagem que eu interpreto, e ali no dia da gravação ver as pessoas caracterizadas tão perfeitamente, fiquei emocionado aos prantos abraçando todos aqueles atores que encarnaram tão bem esses papéis tão importantes para a arte Brasileira. E o Ailton Graça que é um cara maravilhoso, o diretor, foi tudo muito bom e o filme em si eu creio que fará muito sucesso, está muito bem feito, prende a sua atenção e você quer ficar ali vendo... Queria até que fosse uma minissérie e não apenas um filme. Além disso, também informo em primeira mão que estou me mudando para São Paulo em busca de um mercado de trabalho mais aquecido. Vai ser um retorno a minhas origens.  

Bacana a nossa conversa, não é mesmo? E ele ainda deixou um recadinho antes de ir, olha só: "Aos meus fãs, por favor... Prestem atenção aos seus corpos. Todo dia de manhã diga bom dia aos seus corpos, perguntem como eles querem passar o dia, o que querem comer... A gente vive uma relação com o corpo, como se fosse uma simples continuidade obrigada a fazer nossas vontades e é daí que vem as doenças e indisposições, a falta de animo e de energia... Por isso, presentem atenção nos seus corpos, conversem com o seu corpo!" e se vocês quiserem continuar acompanhando ele nas redes sociais, basta procurar no Instagram por @picchimarcello e para contato profissional, é só enviar uma mensagem para (21) 97698-5591 onde ele avisa que "precisando de um coroa bacana, funcional, bonito, talentoso para atuar em projetos, rs... É só chamar!" e no YouTube ele também tem um canal onde ele gravou vídeos de contos escritos pelo filho Thiago Picchi que ele dramatizou durante a época da pandemia, são gravações caseiras, mas estão perfeitas. A preferida do Marcello é essa que estamos deixando aqui para vocês conferirem, olha só!

Espero que vocês tenham gostado da entrevista de hoje, em breve retornarei com novidades. Continuem acompanhando o blog para não perder nenhuma entrevista nova e nem os nossos projetos com o "BBRAU". Lembrando que quem quiser continuar acompanhando mais nas redes sociais, basta procurar no Facebook, Instagram e no Twitter por @odiariodebrunaj, combinado?

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