sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Bruna Entrevista: 10x102 - Rubens Caribé


Olá, olá... Tudo bem, queridos leitores? Então que hoje é dia de conferir uma entrevista inédita aqui no blog, olha que bacana? Convidamos o queridíssimo ator, Rubens Caribé, para conversar um pouco sobre suas experiências profissionais, seus principais trabalhos, suas opiniões sobre o futuro e mais um pouco, foi uma conversa bem bacana e interessante, espero que vocês gostem, pois nós adoramos aqui! 

Bruna Jones: Primeiramente gostaria de dizer que é um prazer lhe receber no blog, mas antes, vamos voltar lá no começo da sua trajetória profissional? Você possui uma carreira consolidada na área cênica e também possui formação em canto e dança, como foi que as artes cênicas acabaram entrando em sua vida e o que lhe motivou a buscar uma carreira nesta área?
Rubens Caribé: Bom, essa tendência artística foi incentivada pelos nossos pais, desde sempre. Eu acabei embarcando no teatro e meu irmão na música. Hoje em dia ele mora na escola há uns 18 anos e faz jazz lá. Minha mãe quando éramos criança levou a gente pra fazer teste de saltimbancos para uma montagem que ia ter, meu pai é músico, então a gente cantava em casa também... Havia um incentivo desde sempre a essa área das artes, tanto que quando eu defini, disse que queria fazer teatro e fui fazer um teste pra um musical que o Antônio Abujamra dirigiu, uma versão de "Hair". E que eu não ia mais tentar o vestibular, aí meu pai liberou, falando "se você quer partir pra carreira..." Então eu, por exemplo, não fiz uma faculdade de teatro, apesar de ter feito cursos de canto e de dança desde sempre. Fiz essa formação paralela, e aulas de teatro mesmo acadêmicas eu não tive, acabei fazendo esse treino nas montagens, conhecendo os diretores e os métodos de trabalho deles, tendo a sorte de conseguir uma sequência de trabalhos e de ir podendo me aprimorar. 

Bruna Jones: Com suas experiências na dança e com o canto, você acabou participando de alguns musicais ao longo da sua carreira, como "Hair" e "Cabaret". Poucos atores são capacitados ou "completos" para participar de projetos como esses. Como foi para você essas oportunidades? Existe um sentimento especial em atuar com musicais?
Rubens Caribé: Ah bom, é uma delícia cantar e dançar, né? E eu sempre tive gosto pelo canto, tendo mais facilidade para o canto do que para a dança, que é mais batalhada. Mas enfim, é uma delícia fazer. Hoje em dia você já pode ver que tem bastante gente preparada para musical. Quando eu fui fazer musical no fim da década de 80, era bem diferente o panorama. Você tinha um elenco composto de atores que cantavam mais, outros dançavam mais, outros eram mais fortes na atuação. Hoje em dia já há muita gente desde jovem com a formação bastante completa nessas três áreas. Mas também vem com esse movimento uma espécie de pasteurização desse trabalho de atuação para o musical, e como se criou uma indústria rentável em torno desse gênero, existe uma safra de atores que fica imitando muito o estilo americano, Broadway, e às vezes eu sinto um pouco engessado pela técnica esse tipo de atuação, sabe? Bastante padronizada, atuação Disney e tal. É uma técnica, é admirável, não diminuo o trabalho dos atores, mas é importante você saber olhar para isso e ver esse tipo de aspecto no trabalho. Eu acho que a evolução natural dessa geração que está toda se preparando para fazer musical em cena é que vai surgindo uma linguagem mais autêntica nossa do musical brasileiro, que já há, né? Nós temos raízes na revista, teatro de vedetes, um teatro musical nesse sentido muito mais satírico, muito mais crítico do que o musical americano que é melodrama sempre, começando com uma mocinha de olhos brilhantes que diz “um dia eu conseguirei, um dia eu farei, um dia eu terei, um dia eu serei”. Enfim, acho mais interessante se a gente descobrir mais pelo mambembe, uma coisa mais brasileira. 

Bruna Jones: Desde o momento em que iniciou a sua carreira até hoje, você já teve a oportunidade de interpretar diversos personagens e em diversos tipos de formatos, como: Cinema, televisão, teatro, teatro musical e até mesmo seriados como o mais recente "Cidade Invisível" e também "Malhação", nos anos 90. Você acredita que pela vasta experiência, hoje em dia se tornou um ator mais seguro e confortável em acompanhar os seus próprios projetos ou ainda existe um lado perfeccionista que acaba lhe atrapalhando um pouco?
Rubens Caribé: Bom, sem dúvidas a minha trajetória hoje me torna mais seguro de alguma forma para começar um trabalho, para abordar uma personagem, para imaginar uma atuação, mas também, outras coisas sempre te desestabilizam. Não existe uma hora em que você diz "agora eu já sei tudo", e tudo vai piorando de outro lado também: a memória vai piorando, a mobilidade... Não vou me lamentar disso ainda, mas quero dizer que a atuação vai ser sempre um caminho à beira do abismo, porque você treina a exaustão, com exatidão, as marcas do texto, e na hora que abre o pano você cai no imprevisível, porque pode errar ou o seu colega errar, enfim, tudo pode mudar mesmo que minimamente. Treino é treino, jogo é jogo, né? Outra máxima: não se deve entrar no campo com o jogo ganho. Eu não me sinto com o jogo ganho em nenhum aspecto. É sempre muita expectativa, um novo trabalho, sempre há um momento de dúvida. Mas enfim, sempre também tem sido assim ao longo do tempo, graças a Deus, sempre o prazer de jogar a partida e lidar com o inesperado do presente com a maior presença possível. É bem isso atuar, é uma capacidade de estar presente no momento da emissão, no momento da encenação toda ligar-se ao sentido daquilo de que estamos falando. 

Bruna Jones: Como eu disse, você teve a oportunidade de interpretar diversos personagens ao longo de sua carreira. Você possui algum que seja o seu "queridinho" e algum que gostaria de reviver se houvesse a possibilidade?
Rubens Caribé: Vários personagens moram no meu coração para sempre! Laertes do "Hamlet", que eu fiz numa montagem do Ulisses Cruz, Marco Ricca... Edgar do "Rei Lear", que eu tive a maravilhosa chance de encenar junto com Raul Cortez. Um momento memorável e inesquecível pra mim da carreira, onde aprendi muito... Enfim, gosto muito de uma personagem do "Hollywood" do David Mamet, que é uma peça. Gosto de uma personagem no cinema em um filme chamado "Cano Serrado", que é o Sargento Sebastião, um personagem até difícil de gostar. Ele é meio miliciano, mas o filme ficou tão bom e a personagem era tão bem escrita que gostei muito de ter feito. 

Bruna Jones: Entre os seus personagens, você já interpretou mocinhos e bad boys, diversos tipos de carreiras e personalidades... Como se prepara para vivenciar esses personagens ao receber um roteiro novo?
Rubens Caribé: Olha, de uma maneira muito intuitiva me aproximo das personagens. Lendo, relendo, conversando com os diretores do projeto, enfim, entrando no projeto, dentro do que nós estamos falando. Pesquisas, ler o que você puder a respeito do autor, da personagem, da obra, é sempre água para o seu moinho. Mas procurando também estar um pouco aberto, não definindo coisas muito já a princípio. Descobrindo no fazer, eu diria. 

Bruna Jones: Novelas, cinema, séries... Qualquer coisa relacionada a artes e cultura acaba influenciando bastante o seu público consumidor e também inspirando. Na sua vida, o que costuma lhe inspirar?
Rubens Caribé: A poesia e a literatura eu acho que são grandes inspirações sempre para todas as linguagens artísticas. Esse ano que passou, 2020, eu gravei áudio livros de três livros do Guimarães: "Primeiras Estórias", "Sagarana" e "Manuelzão e Miguilim", que são dois contos. Isso me inspirou muito a mergulhar no universo do Guimarães, que é difícil e complexo, mas é muito rico, poético e instigante. Descobrir as brincadeiras e jogos que os artistas são capazes de fazer com a linguagem é o que me surpreende e me encanta, eu penso "nossa como a arte é maravilhosa, um cara com palavras estrutura um jogo tão refinado e requintado que continuará falando para sempre através da poesia". Então eu acho que a poesia e a literatura são as minhas maiores inspirações. 

Bruna Jones: Nos anos 2000 você fez parte de um pequeno grupo de famosos que acabou aceitando posar nu para a "G Magazine", inclusive alguns anos atrás você registrou com humor o momento em que achou em uma banca de jornal uma edição dela. O que lhe motivou a aceitar fazer o ensaio? Olhando agora 21 anos depois, foi uma boa experiência?
Rubens Caribé: Ah, eu me diverti, imagina posando nu! Eu fui capa da "G Magazine" em março de 2000, acho que eu tinha uns 35 anos... Imagina, eu estava vaidoso, consegui uma grana com a qual eu viajei para a Escócia, onde fui ver meu irmão. E olha, se houve detratores, houve, mas não chegou muito ao meu ouvido não. Você sabe, quando as pessoas exercem seus preconceitos, elas fazem isso pelas suas costas. Mas dane-se, entendeu? Por exemplo, na mesma época eu fiz "Rei Lear" com o Raul, então você vê, o Raul Cortez não achou nada demais. Ele ficava me enchendo o saco, que queria autografar a revista e não sei o quê, ficava tirando uma com a minha cara. Então eu curti ter feito "G Magazine" sim. E aí, quem quiser julgar esteja à vontade. Estamos vivendo tempos bicudos, onde os moralistas estão todos exacerbados haha! 

Bruna Jones: Hoje em dia o mundo gira em torno do universo dos realities, seja de talentos, culinários ou de confinamento, esses programas estão cada vez mais crescendo na televisão mundial. Você alguma vez já foi convidado para algum? Aceitaria um confinamento tipo "A Fazenda"?
Rubens Caribé: Ah não, não é pra mim. Eu nunca toparia um confinamento desses de exposição 24 horas, mas acho que não corro o risco de ser convidado haha... Mas não, eu não seguraria uma onda dessas não. 

Bruna Jones: Seu mais recente trabalho é em "Cidade Invisível" para a plataforma Netflix, que é um tipo de conteúdo que está se tornando cada vez mais comum aqui no Brasil. Como foi para você essa experiência?
Rubens Caribé: "Cidade Invisível" foi um grande presente que eu ganhei na pandemia, porque nós terminamos de gravar pouco antes de rolar a pandemia, quer dizer, um ano antes, mas eles ficaram também na pós-produção, que foi super trabalhosa. Quem viu a série sabe que os efeitos são maravilhosos, são super bem feitos e isso certamente demorou bastante para ser feito. E a série fez o maior sucesso, ficou entre as dez primeiras em 40 países na semana de estreia, uma receptividade que nenhuma outra série brasileira teve até hoje na Netflix, o que foi muito legal. E o tema da série, que traz o nosso folclore, nossas lendas, também é uma coisa maravilhosa. Um universo inesgotável e que eu acho ser o grande trunfo da série. 

Bruna Jones: 2020 foi um ano bem difícil e esse inicio de ano também está sendo um período de adaptações. Ainda assim, tem novidades suas vindo por ai? Algo que seus fãs podem ficar esperando?
Rubens Caribé: Foi realmente uma rasteira profunda, principalmente na minha área de atuação, das artes performáticas, que dependem de plateia, aglomeração, presença humana. Essas foram totalmente inviabilizadas e não há o que fazer. Acho que vai demorar inclusive para as pessoas deixarem de ter medo e voltarem a se aglomerar em salas de espetáculos fechadas, mesmo vivendo essa onda negacionista que a gente vive. Então eu tive a chance de fazer algumas apresentações online, estou ensaiando um projeto que deve estar no ar em final de agosto ou setembro e que a gente está começando a ensaiar e nós vamos gravar no teatro sem público, com o elenco todo sendo testado, virando um curta-metragem que será editado e vai ser uma experiência audiovisual para ser vista online, gravada. É um texto da Hilda Hilst que se chama "As Aves da Noite" e vai ter direção do Hugo Coelho. E fora isso eles já confirmaram uma segunda temporada de "Cidade Invisível", não para mim pessoalmente, mas eu li isso na imprensa, só que claro, enquanto não passar a pandemia não vai dar para se gravar. Estou esperando ansiosamente, espero estar na segunda temporada. 

Espero que vocês tenham gostado da entrevista de hoje, em breve retornarei com novidades. Continuem acompanhando o blog para não perder nenhuma entrevista nova e nem os nossos projetos com o "BBRAU". Lembrando que quem quiser continuar acompanhando mais nas redes sociais, basta procurar no Facebook, Instagram e no Twitter por @odiariodebrunaj, combinado?

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