segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Bruna Entrevista: 10x103 - Adriano Castro


Olá, olá... Tudo bem, queridos leitores? Então que hoje é dia de conferir mais uma entrevista inédita aqui no blog, olha que bacana? Como todo mundo sabe, a primeira temporada do "BBB" está sendo exibida novamente na televisão e em plataforma digitais, com isso, que tal conhecer um pouco mais sobre o lado profissional de um dos competidores? Convidamos o queridíssimo Adriano Castro para conversar um pouco sobre suas experiências profissionais, vem conferir esse bate papo maravilhoso que tivemos!

Bruna Jones: Você é um excelente artista plástico, com projetos que claramente envolvem muita criatividade da sua parte e que também mexem bastante com os sentimentos das pessoas, você sempre soube que esse era o caminho profissional que você deveria seguir ou inicialmente você tinha outros planos de carreira?
Adriano Castro: Desde criança eu soube que trabalharia com arte, ainda não sabia se através das artes plásticas, teatro, música (tive uma banda por mais de dez anos, chama "Via Sacra", tocávamos punk rock/hardcore e fez muito sucesso em finais dos anos 80 e na década de 90, chegamos a gravar um disco e hoje ela ainda está na ativa em Salvador, Bahia e talvez eu retorne a ela). Fiz teatro na escola, como muitas crianças mas com dez anos ganhei meu primeiro prêmio em artes plásticas, num concurso em minha escolinha, desde aquele tempo já sabia que arte seria meu destino. 

Bruna Jones: Todo e qualquer trabalho que envolve algum tipo de arte, conta também com um grande processo de influência seja pelas próprias experiências de vida ou até mesmo inspiração, também pelas próprias experiências e também através de admiração por outros artistas e obras artísticas. Como costuma ser o seu processo criativo?
Adriano Castro: Eu tenho duas linhas de trabalhos que aparentemente são bem distintas entre si mas que ao final eles se encontram. Em uma delas eu sou artista urbano, onde trabalho com gravura urbana (que é uma vertente da gravura expandida pouco difundida no Brasil) que foi o foco de meu mestrado na UFBA e de meu doutorado na universidade politécnica de Valencia, na Espanha. Gosto do ritmo, do imprevisto e das surpresas que podemos encontrar nas ruas e como vivo na Espanha há quase uma década, já tive o prazer de trabalhar nas ruas de diversos países como Itália, Portugal, Espanha, Alemanha, Rússia, Armênia, Romênia, Holanda, etc... Também trabalho em meu atelier com a gravura tradicional (xilografia, calcografia, serigrafia e litografia), onde dou aulas tanto para crianças como para o público em geral. Meu processo criativo é simplesmente ir ao meu local de trabalho e começar a trabalhar, sem essa de “buscar inspiração” ou algo do tipo.

Bruna Jones: Eu suponho que todas as pessoas que trabalham em alguma área de arte, seja um pouco mais rigorosa consigo mesma quando se trata do seu próprio trabalho. você costuma ser mais critico sobre aquilo que produz ou diria que conforme o tempo foi passando, você foi aprendendo a relaxar mais na hora de compartilhar os seus projetos?
Adriano Castro: Ao contrário, quanto mais o tempo passa, quanto mais experiência eu adquiro, mais sou exigente com minha obra. Os anos de labuta te dão a certeza de qual caminho seguir e qual recusar, e te faz ser mais rigoroso com o que você tem a oferecer ao público. Eu particularmente participo de bienais, trienais e exibições de gravura em todo o mundo há mais de 20 anos, já estive em exposições em cerca de 23 países, onde em muitos casos sou convidado a dar conferências ou palestras sobre a gravura brasileira contemporânea ou sobre a minha pesquisa com a gravura urbana, que é uma mistura de dois mundos, a arte tradicional da gravura e a street-art. também fui por muitos anos o curador da bienal internacional de gravura do douro e da exibição internacional de gravura global print, ambas em Portugal, onde eu selecionava e indicava os artistas gravadores brasileiros. Este ano (2021) estou participando da bienal internacional de gravura de varna na Bulgária, da exibição internacional de mini-gravuras em Kazanlak, também na Bulgária, da bienal internacional de gravura de yerevan, na Armênia (onde em 2017 estive dando uma conferência sobre a gravura brasileira), da exposição internacional de gravura, monsoon printmaking no Nepal, da bienal internacional de incisão de acquiterme, na Itália, da bienal internacional de gravura iosif iser, na Romênia, na trienal internacional de gráfica, em Bitola, macedônia, da trienal internacional de gravura de cieszyn, na Polônia, do salão internacional de arte do Caribe, em Cuba e em vários outros projetos ao redor do mundo. participei de alguns congressos internacionais de arte onde apresentei artigos e fui recentemente convidado pela revista de arte colombiana, la huella, a escrever um artigo sobre a gravura urbana. como se pode notar, eu não paro! A gravura é minha vida e é uma pena que seja tão desconhecida e desvalorizada em meu próprio país. 

Bruna Jones: Você já protagonizou diversas exposições ao longo de sua carreira, sabemos que cada exposição é um sentimento único por diversos fatores, mas se você pudesse definir um projeto seu do qual você possui mais carinho, qual seria?
Adriano Castro: Realmente eu já participei de mais de 100 exposições de gravura em diversos países, em algumas delas recebi prêmios em outras, menções especiais, mas o que realmente me satisfaz como artista gravador, é estar lá nas bienais, trienais e exibições de gravura. Isso me dá a oportunidade de conhecer países, outras culturas, outras línguas, a culinária e obviamente, porque sou solteiro e quando tenho a oportunidade, interagir com as mulheres dos locais que visito. Além do quê, me possibilita também poder exercitar meu lado de artista urbano, colocando minhas gravuras nas ruas destes lugares, que em muitas ocasiões é adrenalina pura! Outra coisa que sinto enorme prazer, é poder transmitir meu background e minha experiência sobre gravura a meus alunos. passar o conhecimento adquirido em mais de 25 anos de trabalho como gravador para as pessoas que em muitos casos nem sabem o que é de fato uma gravura, não tem preço. 

Bruna Jones: Aliás, também poderia compartilhar com a gente qual foi o projeto mais difícil no qual você já trabalhou?
Adriano Castro: Curiosamente um dos “projetos” mais difíceis que tive a oportunidade de participar, foi quando decidi colocar minhas gravuras nas ruas de moscou, na Rússia. estava participando da trienal internacional de gravura dos Urais, em 2016 e resolvi levar algumas obras para colocar nas ruas da cidade. porém muitos amigos artistas locais me alertavam para eu não vacilar pois a polícia poderia me prender se me vissem colocando meu trabalho nos muros. Naquela situação de correr o risco de “conhecer” uma prisão russa, eu amarelei e não tive coragem de colocar minhas obras por lá. Mas essa oportunidade perdida somente “atiçou” a minha vontade de ter um trabalho lá. A ocasião surgiu dois anos depois quando voltei a moscou em 2018, porém, eu estudei melhor a hora e o local de meu “ataque” e tive coragem para colocar algumas gravuras na rua do hotel em que eu estava hospedado, no bairro de Pavletskaya, bem no centro da cidade. tive que agir rápido e foi uma situação tensa que eu não voltaria a repetir. Trabalhar nas ruas de países em que você é um estrangeiro, em geral é muito interessante e excitante, mas na Rússia foi talvez o meu “projeto” mais difícil de executar e tardou alguns anos para poder colocá-lo em prática. 

Bruna Jones: Você também já chegou a dar aulas na escola de belas artes da universidade federal da Bahia, como foi essa experiência para você?
Adriano Castro: Sim, eu também tive a oportunidade de dar aulas na escola de belas artes da UFBA durante alguns anos. Foi uma experiência gratificante, foi logo após eu concluir meu mestrado em 2010 e fiz um concurso público para professor substituto. Passei e fui chamado em seguida para dar aula de xilografia, calcografia e serigrafia no atelier de gravuras da universidade. Infelizmente na época (como é até hoje em dia) os governos não dão prioridade ao ensino das artes neste país e meu local de trabalho era degradado e com condições muito difíceis de trabalho, a pesar de todos os contratempos foram momentos maravilhosos, de aprendizado e de troca com meus alunos. Ser professor universitário no Brasil não é fácil e de artes então, é matar um leão por dia, pois os materiais são caros e difíceis de encontrar e a maioria dos alunos não tem condições financeiras para adquiri-los. Tudo isso junto me fez ver que talvez eu devesse “respirar outros ares” e fui buscando outras opções profissionais para mim. Coincidentemente, em 2012 fui convidado por uma universidade espanhola em Valencia, para dar um mês de aula de arte urbano lá. Como creio ter feito um bom trabalho, tanto com os alunos, como com os meus colegas professores, no ano seguinte fui novamente convidado pela mesma instituição para retornar a dar aula e desta vez, após as aulas, passei três meses por lá, onde eu me apaixonei pela cidade. no ano seguinte, em 2014, voltei com a intenção de viver e trabalhar em Valencia, onde iniciei meus estudos de doutorado e onde vivo e trabalho até hoje. 

Bruna Jones: Em 2002 você acabou participando de uma das maiores loucuras televisionadas do Brasil, a primeira temporada do "Big Brother Brasil" dando como motivo o fato de que queria divulgar o seu trabalho, você acredita que ter participado do programa, acabou te trazendo mais coisas positivas do que negativas, profissionalmente falando?
Adriano Castro: Não, infelizmente minha participação no BBB só trouxe prejuízos ao meu trabalho como artista, pois as pessoas deixaram de me ver como um artista plástico e passaram a me ver como uma “celebridade”. Vou te dar um exemplo. No ano anterior a minha entrada no BBB, em 2001, eu ganhei o primeiro prêmio no salão de arte contemporânea de Piracicaba, que é um dos mais tradicionais e importantes salões de arte do país. Este prêmio, me abriu muitas portas, consegui ser representado por uma das mais importantes galerias de São Paulo (que prefiro não dizer o nome), uma galeria que trabalha com a nata dos artistas contemporâneos brasileiros, vendi trabalhos para o maior colecionador de arte do Brasil, Gilbero Chateubriand (que tenho muito orgulho de fazer parte de seu acervo), mas logo após o BBB todo este trabalho foi por água abaixo, as galerias e instituições culturais me viam não mais como um promissor artista e sim como um “deslumbrado” pela fama. Esse foi um dos motivos que me levaram a sair do país e começar uma nova vida num local onde ninguém me conhecia nem me julgava por ter participado de um reality e sim apenas e tão somente pela qualidade de meu trabalho e posso dizer que hoje em dia consegui me livrar dessa “pecha”. O BBB pode ser uma “faca de 2 gumes” portanto as pessoas tem que pensar muito bem se querem de fato entrar no programa, mesmo alguns que ganharam o prêmio, hoje em dia estão mal de vida, financeiramente falando. 99% dos ex-bbbs não conseguiram se firmar na televisão ou no showbis. 

Bruna Jones: Após a sua participação, você chegou a fazer alguns trabalhos na televisão, na própria emissora e até chegando ao ponto de se tornar uma celebridade naquele período, porém, depois de algum tempo você acabou se afastando de tudo isso. o que motivou a sua "saída" da mídia?
Adriano Castro: Verdade, creio que eu talvez tenha sido um dos BBBs que mais sucesso obteve após a participação no programa (exceto Sabrina Sato e Grazi Massafera). Fui contratado pelo esporte da Rede Globo, tive um quadro na copa do mundo chamado “Big Brou”, onde eu entrevistava pessoas relacionadas com os países que se enfrentavam no jogo daquele dia, fiz inúmeras participações em quase todos os programas da casa, fui repórter no carnaval e no festival de verão de Salvador e após isso eu fui contratado pela Rede Record para ser o repórter do programa matinal note e anote com apresentação de Claudete Troiano, junto com a outra repórter a Joana Prado a “feiticeira”. lá também participei de quase todos os programas da casa. Também fui substituto de Luciana Gimenez em seu programa (no dia de seu aniversário), fiz um programa que era uma espécie de “a grande família” com João Kleber na Rede TV! e aproveitei bastante meu tempo de celebridade. obviamente que eu sabia que um dia isso tudo iria passar, que aquela não era minha vida “de verdade” e que um dia teria que voltar a minha rotina em minha cidade. Essa transição foi muito difícil mas consegui fazer. quando saí da mídia resolvi fazer concurso para professor de gravura na UFBA, onde passei e fui dar aulas além de fazer meu mestrado em artes visuais. mas na verdade os pedidos de entrevistas nunca pararam, foi uma opção minha de não querer mais participar desse “circo midiático” e me afastei completamente deste meio. Há mais de 10 anos não dou entrevistas por que não quero me envolver mais nessa coisa toda, como te havia comentado, nem sei o que me deu na cabeça de te dar essa entrevista! Creio que pelo seu jeito elegante e educado de se aproximar de mim, deve ter sido isso. E já adianto que vai levar mais uns 10 anos para conceder outra entrevista para alguém. não tenho nada a dizer de interessante, minha vida não interessa a ninguém. este ano, como tinha saudades de rever os meus amigos do BBB1, resolvi fazer um grupo no Whatsapp e pela primeira vez em 19 anos nos reunimos novamente. Obviamente que nem todos quiseram participar, mas lá estão eu, Leka, Xaiane, Serginho, André e Estela. Através de convites de alguns deles, tenho participado de algumas lives com eles e está sendo bem divertido essa experiência de rever os amigos e relembrar situações que eu nem lembrava mais.


Bruna Jones: Olhando hoje para tudo aquilo que lhe aconteceu em 2002, você sente que esse foi um capitulo que se encerrou na sua vida ou se rolar uma proposta interessante, você acabaria retornando em algum programa do mesmo gênero?
Adriano Castro: Olha só, eu já fui convidado duas vezes para voltar ao BBB. Teve uma enquete no globo.com, onde eles perguntaram quem era o BBB que o público mais queria ver de volta na casa e eu ganhei. O lance é que eles queriam que eu voltasse como um BBB qualquer, sem me pagar o que eu acho que mereço. Entenda bem, eu já não sou mais um desconhecido, o público me conhece bem e não acho justo voltar ao programa como um “ilustre desconhecido”, também não sou uma super estrela, não quero um cachê milionário. Poderia pensar em voltar se me pagassem bem, já não tenho mais idade de entrar em “barca furada”, tem que ser uma proposta boa para os dois. Adoraria participar por exemplo de um reality tipo "A Fazenda", pois creio que nem o Théo Becker, poderia fazer o que eu faria por lá. eu colocaria “fogo no parquinho” do politicamente correto que eu odeio e estou cagando para o que vão pensar de mim. Vivemos na era do cancelamento, mas só se deixa cancelar quem quer. Quem tem medo dessa turma de lacradores. "A Fazenda" é um reality diferente do "BBB", onde as pessoas que se sentirem estressadas, podem se quiserem, extravasar nos campos com os animais, dar um rolê, espairecer, etc. No "BBB" não tem escapatória, a casa é pequena justamente para propiciar conflitos entre as pessoas, não dá para se afastar de quem você brigou ou discutiu. se rolar um convite para "A Fazenda" pensaria com muito carinho sim. 

Bruna Jones: 2020 foi um ano bem difícil e esse ano também está sendo um período de adaptações, ainda assim, tem novidades suas vindo por ai? Algo que as pessoas que te acompanham podem ficar esperando?
Adriano Castro: Não tenho novidade alguma de interesse do público de entretenimento, apesar de ser uma figura ainda muito conhecida, não considero que o que eu faça tenha interesse do público em geral. As pessoas que tem interesse em meu trabalho, são meus clientes decoradores, arquitetos e compradores de obra de arte, um público muito distinto desse de reality show. Apenas continuarei tocando minha vidinha, participando das bienais, trienais, e exposições de gravura pelo mundo, dar minha conferências onde me convidarem, escrever meus artigos sobre arte e dar minhas aulas que é o que me dá prazer. Realmente este ano foi muito difícil para todos nós, especialmente para mim, que perdi meu pai por causa desse vírus chinês e nem pude enterrá-lo pois as fronteiras da Europa para o Brasil estavam fechadas. foi um baque muito grande que ainda não me recuperei, ele era o meu maior amigo, incentivador e companheiro e sinto muito a sua falta. eu sinto na pele o que milhares de famílias Brasileiras estão sentindo nesta pandemia maldita. 

E para quem quiser continuar acompanhando ele nas redes sociais, tem um recadinho: "Quem quiser acompanhar meu trabalho artístico, comprar alguma gravura, pintura ou escultura (temos para todos os bolsos, podem me perguntar sobre os preços) basta me seguir em meu Instagram (que sim, é fechado e continuará sendo, pois gosto de saber quem é que eu vou colocar lá): adriano.castroprintmaker@gmail.com. Muito obrigado pela entrevista e espero que seu público curta ela!" 

Espero que vocês tenham gostado, em breve eu volto com mais! Qualquer novidade eu volto, lembrando que quem quiser entrar em contato comigo, pode add no facebook, procurando por "Bruna Jones" e que agora na página oficial do blog, vocês encontram conteúdo exclusivo: clique aqui! Podem também procurar e seguir no twitter e instagram no @odiariodebrunaj certo?

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