Olá, olá... Tudo bem, queridos leitores? Então que hoje é dia de conferir mais uma entrevista inédita aqui no blog, olha que bacana? E o nosso convidado de hoje é o queridíssimo ator e diretor, Bruno Perillo. Ele vem compartilhar com a gente um pouco da sua trajetória, sobre seus personagens e desejos, vem conferir tudo isso e mais um pouco a partir de agora!
Bruna Jones: Hoje você é um ator e diretor de grande sucesso, principalmente na área do
teatro, mas antes da gente falar mais sobre isso, vamos voltar lá no início, sim? Qual
foi o seu primeiro contato com as artes cênicas e o que te motivou a buscar uma
carreira nela?
Bruno Perillo: Bem, meus primeiros contatos com o mundo artístico vieram através do meu pai. Me
lembro de ele me levar a vários filmes e espetáculos quando pequeno, e depois já
adolescente.
Por exemplo, fomos ver "2001 Uma Odisseia no Espaço", do Kubrick, e "Derzu Uzala",
do Kurosawa. Uma peça que me marcou demais foi "Romeu e Julieta", montagem do
Antunes Filho, e "O Tempo e os Conways", do Grupo Tapa. A partir dali passei a me
encantar por tudo o que era teatro e cinema. Senti então que era a carreira que mais
me chamava. Porque juntamente com tudo isso, eu tocava piano, e foi a música que
acabou me levando aos palcos.
Bruna Jones: A gente sabe que construir uma carreira artística no Brasil é mais complicado,
principalmente no início. Como foi o início da sua jornada? Quais foram as principais
dificuldades que você encontrou pelo caminho?
Bruno Perillo: O início é muito complicado porque você de fato tem que querer demais. Você tem
que abrir mão de muita coisa, não só da sua vida pessoal, dos finais de semana, mas
também de ganhos financeiros, de uma carreira com segurança de uma trajetória e
etc. Então é muito fácil você desistir. A todo momento, você se questiona.
Eu comecei num grupo amador chamado Atíria, e foi a partir das montagens desse
grupo que eu acabei entrando no mundo "profissional". Fui chamado para participar de
uma montagem da peça "O Noviço", de Martins Pena, já pelo Grupo Tapa. Desde esse
momento em diante, fui cada vez mais percebendo e tendo consciência de como a
resiliência é fundamental no nosso ofício.
Mas as dificuldades são constantes. Muitas horas dedicadas a ensaios, leituras,
estudos, às vezes sem nenhuma perspectiva de finalizar um trabalho e levar ao palco.
Só que tudo isso compensa, se você é tomado pela coisa, se aquilo alimenta tanto o
seu ser que você não pode mais viver sem.
Eu tive bastante sorte de entrar no Grupo Tapa, do diretor Eduardo Tolentino, e
participar de tantos processos criativos e montagens nesse coletivo tão importante.
Uns 10 anos depois fui para o Grupo Folias d’Arte, onde trabalhei com o diretor Marco
Antônio Rodrigues, e conheci outro universo possível nas artes cênicas. Esses dois
grupos teatrais foram a minha escola.
Bruna Jones: Ao longo dos seus mais de 30 anos de carreira, você já teve a oportunidade de
interpretar diversos papéis diferentes. Como costuma ser o seu processo criativo
quando recebe algum roteiro novo?
Bruno Perillo: Procuro sempre buscar um mergulho bem profundo em todos os aspectos do
personagem, e todo o seu entorno: sua relação com os outros personagens, onde e
quando ele vive, o que ele quer (isso é fundamental). E como ele irá ajudar a "contar" o todo da obra.
Mas meu processo criativo passa sempre por uma conexão direta com meu corpo.
Para mim, o trabalho apenas mental e teórico sobre o personagem não funciona se eu
não fizer uma ponte direta com o corpo, procurando sempre gerar uma ação clara em
cada cena, que me leve adiante, que me permita transformar algo no outro, e que me
deixe afetar também pelo outro, e pelas circunstâncias.
Assim, no conjunto dessas pequenas ações, eu posso chegar ao final do trabalho
diferente do que eu era no início dele, e portanto criando uma trajetória que possa ser,
de certo modo, "comunicativa" ao público.
Há um equilíbrio muito sutil e ao mesmo tempo tenso entre o racional e o intuitivo,
ambos fomentando juntos a criação deste "ser" que é o personagem, mas que é na
verdade uma mistura entre você e aquilo que está no roteiro.
Bruna Jones: Como eu disse, você teve a oportunidade de interpretar personagens diversos ao
longo dos anos, mas ainda assim, existe algum tipo de personagem que você não
tenha feito e gostaria de fazer?
Bruno Perillo: Nossa, existem muitos personagens que eu quero fazer, outros que queria ter feito!
Fascinantes, desafiadores.
Só que junto a esses desejos, eu sempre penso que a nossa motivação pra interpretar
um personagem tem que vir de algo que faça um sentido real naquele momento, e não
apenas por uma satisfação pessoal, sabe?
Mas não posso deixar de dizer que eu adoraria fazer, por exemplo: o Macbeth (do
Shakespeare), o Vado (de Navalha na Carne), o Amado Ribeiro (de Beijo no Asfalto),
o personagem de Mão na Luva, do Oduvaldo Viana Filho, isso pra pegar os clássicos.
E tem vários personagens contemporâneos que são incríveis também, a lista é
grande. E que bom, porque a motivação é um elemento que não podemos perder na
nossa carreira. Se pararmos com os desafios, vamos nos acomodando. E isso é
mortal na carreira de qualquer artista.
Bruna Jones: Ainda sobre personagens, você teve a oportunidade de interpretar diferentes tipos
de personagens, certo? Existe algum que acabou sendo mais difícil de compor ou se
relacionar?
Bruno Perillo: Teve um personagem que na verdade era uma personagem chamada Rafaela, era
uma mulher, portuguesa, de uma peça chamada Cabaré da Santa, texto do Reinaldo
Maia e Jorge Louraço que fiz no Folias d’Arte com direção do Dagoberto Feliz. Relutei
muito no começo, achava que não conseguiria interpretar uma mulher, com sotaque
português, e tal, mas aos poucos fui bancando a ideia. Fui percebendo que o tamanho
do desafio era proporcional a quanto ele poderia ampliar meio repertório como ator, a
tal saída da sua zona de conforto.
Quando chegaram os figurinos e a peruca, e todo o visual dela, tudo acabou se
transformando num dos mais prazerosos e divertidos personagens que já fiz. E a
composição foi feita muito ao contrário do que sempre faço, ela veio “de fora pra
dentro”, vamos dizer assim. Ou seja, nesse caso o vestido, a peruca realista e a
maquiagem foram essenciais na criação da Rafaela. Ao me olhar no espelho, todo
montado, o corpo, a voz e os gestos vieram quase que instantaneamente.
Bruna Jones: Você tem muita experiência no teatro, tendo a oportunidade de estar em grandes
palcos e adaptações premiadas, muita gente ao redor do mundo tem a ideia errada de
que se você não está fazendo televisão, então você está não é famoso, mas acredito
que o teatro é a base de tudo que vem pela frente, você também acredita nisso?
Bruno Perillo: Eu creio sim que é fundamental fazer teatro. Lá você aprende tudo, e você é capaz de
se adaptar ao mundo do cinema e da televisão, que requerem técnicas diversas. E eu vejo o
audiovisual buscando atores e atrizes que vêm do teatro.
Porém acho que tudo é possível, como por exemplo atores indo direto ao audiovisual,
desde que haja dedicação e estudo, porque a arte verdadeira requer um
comprometimento verdadeiro. Se tiver isso, tudo acontece.
Bruna Jones: Falando em teatro, uma das maiores características de quem faz esse tipo de
arte, é saber lidar com imprevistos e curiosidades que acontecem no ambiente, sem
você sair do seu personagem, certo? Ao longo dos anos, aconteceu algo incomum ou
engraçado enquanto você estava no palco?
Bruno Perillo: rs... Muita coisa acontece quando estamos no "ao vivo" dos palcos. E a gente acaba
desenvolvendo uma capacidade de driblar esses eventos. Se a peça é um trabalho
que permite o jogo, o improviso, é mais fácil, porque você incorpora os erros dentro da
cena e a coisa fica viva. Se estamos num drama realista, é bem mais complicado.
Lembro que uma vez eu fazia uma peça com um elenco enorme (pelo menos 20 em
cena). Éramos jovens na época, rs. Um dia, um dos atores chegou de muleta, e teve
que entrar em cena assim. Tinha um momento em que fazíamos um gesto em
uníssono: todos erguiam os braços juntos. Quando olhamos pro lado e vimos o ator
erguendo as 2 muletas pro céu, ninguém aguentou, foi um riso quase que simultâneo
(numa cena dramática!). Nossa, esse dia foi duro prosseguir! Pagamos um "certo
mico", além da dura do diretor. Mas no fim deu tudo certo.
Bruna Jones: Artistas tendem a ser muito perfeccionistas com seus próprios trabalhos e isso
muitas vezes acaba atrapalhando alguns projetos. Você costuma ser mais autocrítico?
Bruno Perillo: Sou MUITO autocrítico. Acho que é bom ser, mas o excesso atrapalha. Alguns
trabalhos pedem um descompromisso, um ligar o tal do "foda-se" (no que isso tem de
mais produtivo e saudável, claro), e onde a autocrítica cai bem mal.
Aos poucos você vai sabendo lidar com isso, a experiência ajuda. Com o tempo, você
aprende a ser mais desapegado a coisas que de fato não são relevantes, como no
começo da carreira você achava que era.
Bruna Jones: Hoje em dia os realities acabaram se tornando tão populares na televisão quanto
as novelas eram algumas décadas atrás. Existem diversos tipos: Confinamento,
culinária, musical, sobrevivência, etc... Se você fosse convidado para algo do tipo,
participaria?
Bruno Perillo: Não! rs... Não me daria bem com esses realities. Certeza, recusaria. Meu caminho é
realmente o do trabalho com o texto, seja atuando ou dirigindo. Aliás, o trabalho de
direção teatral é uma função que quando comecei a fazer, me encantei demais.
Bruna Jones: Já estamos quase chegando no final do ano, mas ainda assim, tem alguma
novidade vindo por aí? Algo planejado para o próximo ano que possa compartilhar
com a gente?
Bruno Perillo: Em fevereiro e março, volto em cartaz com "O Deus de Spinoza", no Teatro Itália. Quero
voltar ao audiovisual em 2023. E tem vários outros projetos pra acontecerem. Logo
que souber eu conto.
Bacana a nossa conversa, não é mesmo? E ele ainda deixou um recadinho antes de ir, olha só: "Sempre gosto de repetir essa coisa da vocação. Siga seu sonho, faça aquilo que seu coração lhe diz, às vezes ele só sussurra, e você precisa ouvir com atenção. Outras vezes o chamado é mais claro. Busque um objetivo concreto pra você, que faça real sentido. Estude, mergulhe, monte o seu grupo. Juntos, a gente consegue avançar. A arte teatral, o cinema, só ocorrem com pessoas trabalhando juntas. É nisso que eu creio. E é sempre bom lembrar, a Arte salva!" e se vocês quiserem continuar acompanhando ele nas redes sociais, basta procurar ele no Instagram por @bruperillo, já para contatos profissionais, é só enviar um E-mail para bruperillo@gmail.com ou uma mensagem no WhatAapp: (11) 99177-3362, beleza?
Espero que vocês tenham gostado da entrevista de hoje, em breve retornarei com novidades. Continuem acompanhando o blog para não perder nenhuma entrevista nova e nem os nossos projetos com o "BBRAU". Lembrando que quem quiser continuar acompanhando mais nas redes sociais, basta procurar no Facebook, Instagram e no Twitter por @odiariodebrunaj, combinado?
Nenhum comentário:
Postar um comentário