Olá, olá... Tudo bem, queridos leitores? Então que hoje nós estamos começando a oitava temporada de entrevistas aqui no blog e para começar bem, eu convidei o queridíssimo João Vianna, que vocês provavelmente conhecem como Jon, do canal do YouTube "Tralhas do Jon" onde ele comenta assuntos bem bacaninhas sobre o universo de heróis, cinema, games e muito mais. A gente bateu um papo bem bacana sobre o canal e outras experiências profissionais, que vocês acompanham a partir de agora, vem comigo!
Bruna Jones: Antes de a gente começar a falar do seu canal no YouTube, o "Tralhas do Jon", vamos pelo começo, sim? Algumas pessoas não sabem, mas você é formado em cinema, não é mesmo? Como foi que você decidiu que gostaria de seguir nessa carreira?
João Vianna: Eu sempre fui metido a cinéfilo desde muito novo, sempre meio introvertido e fascinado por audiovisual e narrativas. No meu caso, fazer cinema não foi nem tanto uma decisão depois de muito pensar, mas uma certeza. Eu não imaginava que a tela que eu mais estaria produzindo para seria a do computador, mas em retrospectiva, eu acho digníssimo.
Bruna Jones: Durante esse período acadêmico você acabou escrevendo, dirigindo e até mesmo atuando em alguns projetos. Como foi para você esse período? O que te inspira na sua criação?
João Vianna: Meus curtas de faculdade são... Peculiares. Bem o tipo de coisa que eu preferiria jogar em alguma caixa-forte e só liberar anos depois como uma curiosidade, quando eu já for rico e famoso. *risadas de sitcom* Mas sério, sempre me dá uma certa vergonha de retornar a eles, foram muitos erros básicos cometidos que eu não consigo parar de pensar em poder voltar no tempo pra corrigir ou reaproveitar pra fazer alguma coisa muito melhor. Mas, com sorte, isso é um sinal que eu estou melhorando, então mal posso esperar pra odiar tudo o que eu faço atualmente. O que me inspira em meus vídeos geralmente é aquela sacada genial ou ideias que já estão ruminando na minha cabeça há tempo e eu simplesmente preciso tirar do meu peito. É o que me deixa entusiasmado pra gastar horas e horas produzindo e a satisfação que isso me dá é imensa. Eu sou péssimo fazendo vídeos só por obrigação ou pra pegar carona no que é popular, o que… meio que explica porque o meu canal não cresce.
Bruna Jones: Não muito longe disso, você continua escrevendo e de certa forma atuando e dirigindo no seu canal do YouTube, não é mesmo? Você pretende continuar expandindo a sua criatividade como muitos YouTubers acabam fazendo, indo para os livros ou até mesmo a atuação?
João Vianna: Um dos meus segredos de origem como youtuber: Eu sonho em produzir uma HQ desde os dezesseis, então parte da minha idéia mirabolante lá no final de 2014 é que se eu ficasse famoso como alguém que manjo muito de quadrinhos, eu teria facilidade em financiar esse projeto e achar alguém para colaborar. Por enquanto isso continua na minha lista de afazeres, até porque eu acabei me divertindo muito mais do que eu imaginava com essa coisa toda de YouTube. Quanto ao resto... Eu não sei, é provável que eu acabe voltando a fazer alguma coisa relacionada a cinema no futuro, mas por enquanto ainda acho que eu sou pequeno demais pra isso ser em consequência do meu canal.
Bruna Jones: Alguns anos atrás, você chegou a fazer parte da equipe do site "O Vicio", como foi esse projeto para você?
João Vianna: Eu conheci algumas das pessoas do Vício logo no começo do canal, quando frequentava grupos de Facebook pra tentar divulgar meus vídeos. Aparentemente eles gostaram e o convite para me juntar ao site veio no meio de 2015, quando eu tinha só seis meses de canal. Eu passei a fazer parte integral da equipe do Vício, inclusive sendo o principal administrador do canal deles. Eu acabei saindo de lá no finalzinho de 2017, porque sempre houve uma incongruência entre o tipo de vídeo bastante pessoal e regido pela minha personalidade que eu sempre gostei de fazer e o que se espera de um portal de cultura pop, mas aprecio muito o tempo que passei lá. Foi onde eu passei a maior parte da minha carreira, por enquanto, e desenvolvi minhas habilidades, criei vários laços e continuo em contato frequente com algumas das pessoas do site.
Bruna Jones: Como foi que surgiu a ideia de criar o canal no YouTube e por qual razão você acreditou que seria a melhor plataforma para trabalhar?
João Vianna: Eu sempre fui antissocial demais pra atmosfera colaborativa do cinema (com sorte, eu venho melhorando nisso), mas com o YouTube, eu posso escrever, gravar e editar um vídeo sozinho. Talvez seja por isso que muitos dos meus vídeos acabam dando mais trabalho do que valem a pena, eu acabo usando como uma catarse para o meu lado de cineasta frustrado, mas eu também acho que essa é uma perspectiva saudável: Todo youtuber é, por definição, um cineasta, e quanto mais ele se enxergar assim, mas ele vai se ver incentivado a quebrar as barreiras que limitam o que nós entendemos como um "vídeo do YouTube". O YouTube representa a grande democratização do audiovisual, para o bem ou para o mal. E muitas vezes esse mal é bem pesado, oscilando desde conteúdo inútil, mas inofensivo, até servindo de plataforma para nazistas digitais. Então é importante que os criadores sintam a responsabilidade de tentar canalizar esse potencial bem que o YouTube pode ser, usando sua plataforma para passar mensagens positivas e expandindo as possibilidades do que um vídeo pode fazer. Afinal, Mcluhan continua certo e o meio continua sendo a mensagem.
Bruna Jones: Seu canal é bem diversificado, você conversa sobre quadrinhos, filmes, games... Tudo isso com uma pitada de humor. Como foi que você decidiu como e com o que iria trabalhar?
João Vianna: Quadrinhos sempre foram uma paixão, especialmente super-heróis, e eu passo muito mais tempo pensando sobre do que é útil ou saudável. Me arrependo um pouco de ter passado tanto tempo falando só de quadrinhos, mesmo hoje, acho que devia falar mais de cinema, games e outras coisas. Mas o que geralmente me interessa mais, não é sobre O QUE eu falo, mas COMO eu falo e que tipo de temas e ideias interessantes eu posso extrair. E quando boa parte dessas ideias acabam sendo relacionadas ao Superman... Acho que é natural. Desde o início eu gostei da ideia de ser o "anti-youtuber". Isto é, se o nosso ideal de youtuber é hiperativo, barulhento e acessível, eu seria blasé, sarcástico e erudito. O que era incrivelmente pretensioso da minha parte, vale notar. Nos primeiros vídeos, acho que eu forcei isso até demais, especialmente quando eu já sou assim naturalmente. Uma personalidade forte é o que faz o youtuber ser memorável, mas o público também espera autenticidade (mesmo que ela seja ilusória). Acho que hoje em dia eu já sei canalizar um pouco melhor meu lado performático. Já o humor é o tipo de coisa que sempre me veio automaticamente, eu tenho é que me controlar pra não injetar humor em nada que possa ser inapropriado. Eu também sempre gostei da mistura de cultura pop e erudita. Na mistura de quadrinhos com filosofia, ou coisas do tipo, quando você mostra que a cultura pop tem mais profundidade do que nós aproveitamos e que a cultura erudita é mais acessível do que os elitistas querem que nós pensemos.
Bruna Jones: Toda profissão é meio complicada no início, quais os desafios que você encontrou ou ainda encontra na sua caminhada?
João Vianna: Acho que eu sou bom em fazer vídeos. E ruim em praticamente todos os outros aspectos. Especialmente no que diz respeito a saber promover meus vídeos, produzi-los no momento relevante e ser um social influencer ativo. Sem falar que seguir uma rotina disciplinada nunca foi uma das virtudes. Mas mesmo com dificuldade em alcançar um público maior (e meu cronograma nunca foi muito a cara do modelo de negócios do YouTube, o que também não me ajuda), o feedback que eu recebo sempre foi muito positivo, é o que sempre me mantém animado pra continuar.
Bruna Jones: Ter um canal aberto na internet tem o seu lado bom que é conhecer e se conectar com pessoas que pensam e admiram o seu trabalho, mas também tem sempre um hater ou outro que simplesmente gostam de implicar por puro esporte. Como você lida com esse contato tanto positivo quanto negativo?
João Vianna: A falta de fé no típico comentarista de YouTube é um bom começo pra lidar com isso. Não que eu nunca esteja equivocado, é só que eu tenho bastante certeza que nenhum tipo de esclarecimento vai vir do adolescente revoltado xingando a minha voz. O que é diferente de um comentário discordando de mim ou oferecendo uma outra idéia de forma educada, o que é perfeitamente de boa. Mas o lado bom de passar tanto tempo pensando no que eu vou falar em vídeo é que eu tenho em boa fé que estou falando a coisa certa e não abusando da minha autoridade como o criador de conteúdo. Aí é aquela, se eu fizer um vídeo apontando dedo para temas como machismo, homofobia, racismo ou privilégios e não atiçar a ira das pessoas horríveis de plantão, é sinal que eu estou fazendo alguma coisa errada. Então de certa forma, receber um módico desse tipo de pessoa e dez vezes mais elogios e aprovação dos outros é uma coisa que me anima mais que qualquer outra coisa.
Bruna Jones: Ainda estamos no começo de 2019, época de novidades... Quais são os seus próximos projetos em vista? Pode adiantar algo para a gente?
João Vianna: O retorno iminente do Cinehue, que é um quadro que eu sempre tive muito carinho, onde eu dou algumas risadas às custas de filmes nacionais lendariamente ruins. Vai ser o maior e mais ambicioso vídeo desse quadro pra compensar o hiato de mais de um ano dele. Também tem vários projetos que eu vivo discutindo com a Fernanda (minha namorada, do canal Sugar Rush e que já foi entrevistada aqui), incluindo um quadro que vamos compartilhar, também focando bastante no humor e dessa vez direcionando nossos olhares pra animações. E eu também vivo com vários documentos abertos rascunhando roteiros e ideias pra vídeos. No momento eu estou trabalhando em um vídeo sobre o Hulk, ligando a Freud, parece o tipo de coisa que vai agradar. É o Jon, do Tralhas do Jon! (vejam meus vídeos, please).
Bruna Jones: Antes de encerrar a entrevista, gostaria se possível que você indicasse cinco filmes que você acredita que todo mundo precisa ver antes de morrer e cinco filmes que você acha que é uma completa perda de tempo.
João Vianna: Eu meio que travei com essa pergunta. Não quero indicar filmes óbvios que todo mundo já viu (tem propósito eu mandar alguém ver Blade Runner ou Homem-Aranha 2?), então quero pensar em coisas relativamente diferentes, mesmo que não tão obscuras assim, mas que me representem.
Verdades e Mentiras (1973), de Orson Welles. O que começa como um documentário sobre falsificadores de arte, se torna o maior truque de mágica do próprio Orson Welles. Parte documentário, parte ficção e parte reflexão sobre a natureza de documentários e ficção. Um filme essencial pra quem quiser virar youtuber e lidar com vídeo ensaios.
Adaptação (2003) é possivelmente o meu filme preferido do Spike Jonze e Charlie Kaufman, mas não recebe tanta atenção quanto Quero Ser John Malkovich ou Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças. É um dos exercícios de metalinguagem mais divertidos já feitos e tem uma atuação dupla maravilhosa do Nicolas Cage. Então, sabe, perfeito. O filme que me fez querer ser roteirista.
Hamlet (1996), a versão do Kenneth Branagh, mais porque eu sou um super fã de Shakespeare (ainda quero achar uma desculpa pra falar sobre no canal) e essa a minha adaptação preferida pro cinema (mesmo sendo gigantesca, com quatro horas). Hamlet é a peça do Bardo que mais me toca e eu me identifico profundamente com o protagonista (mesmo ele sendo um bosta).
Darkman - Vingança Sem Rosto (1990), do Sam Raimi, dificilmente o filme mais profundo do mundo, mas infinitamente criativo e divertido e que merece reacender seu lugar de cult. É basicamente a interpretação do Sam Raimi aos filmes de super-herói pulps estilo o Batman ou o Sombra. É violento, engraçado, bizarro e ainda arranja uma forma de colocar o Bruce Campbell na última hora.
Chumbo Grosso (2007) é o melhor filme do Edgar Wright, mesmo não sendo tão famoso quanto Scott Pilgrim, Todo Mundo Quase Morto ou Baby Driver. Era só pra ser uma sátira britânica aos filmes de ação americanos e às cidadezinhas rurais da Inglaterra, mas vai o mais longe possível. O roteiro e a direção do filme são monstruosamente complexos e meticulosos. Você pode reassistir ele 15 vezes e sempre novos detalhes e piadas igualmente geniais e hilárias. Eu bato na mesa e digo que essa foi a melhor comédia dos anos 2000 (e de todos os tempos).
Quanto aos cinco filmes que eu não recomendo… eu não sei se eu sou capaz disso, não tem realmente nada que eu recomendo que NÃO assistam, acho que é saudável tentarmos consumir tudo o que pudermos. Mesmo eu tendo criado uma certa fama no canal por detestar certos filmes como Batman vs Superman, eu ainda acho relevante que todos os interessados nesse meio assistam para ter uma noção mais clara de como funciona o nosso zeitgeist atual e a indústria de blockbusters. Tem muita coisa que pode se aprender em filmes ruins, até mesmo aqueles que passam mensagens nocivas, desde que o espectador seja capaz de captá-las. O que eu posso recomendar é que sempre exercitem o pensamento crítico e desenvolvam a capacidade de ler e interpretar a mídia.
Bacana a nossa conversa, não é mesmo? E ele ainda deixou um recadinho antes de ir, olha só: "Olha, jovens, estou dando uma entrevista! :D Falando sério, somos uma geração com muito potencial. Constantemente consumindo mídia e conectados à internet, temos o potencial de sermos as mais alienadas ou as mais inteligentes, produtivas e empáticas. Vamos tentar direcionar isso para a segunda opção." e para quem quiser continuar acompanhando nas redes sociais, ele também deixa um recadinho: "Quem quiser me seguir no Twitter e Instagram pode ir atrás de @tralhasdojon. Quem quiser me mandar um e-mail pode tentar @obelaovianna@gmail.com. E claro, quem quiser se tornar um apoiador do canal, ter direito a várias recompensas e ainda aquecer meu coração, pode dar uma olhada no meu Apoia.se, AQUI."
Espero que vocês tenham gostado da entrevista de hoje, em breve retornarei com novidades. Continuem acompanhando o blog para não perder nenhuma entrevista nova e nem os nossos projetos com o "BBRAU". Lembrando que quem quiser continuar acompanhando mais nas redes sociais, basta procurar no Facebook, Instagram e no Twitter por @odiariodebrunaj, combinado?
Ah, o Jon e muito incrível... Independente do que eu decidir fazer da vida nos próximos anos, o Tralhas do Jon vai continuar sendo uma das minhas maiores e melhores influências ever.
ResponderExcluirAnsioso pelos próximos trabalhos dele. Os últimos foram impecáveis.
Otima entrevista Bruna e Jon você é o nosso melhor e unico youtuber misontropo,emo com uma dicção fantastíca.
ResponderExcluirAdorei
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