quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Bruna Entrevista: 9x07 - Bernie Rao


Olá, olá... Tudo bem, queridos leitores? Então que hoje é dia de conferir mais uma entrevista inédita aqui no blog, olha que legal? Nosso convidado de hoje é roteirista, diretor, produtor e basicamente tudo relacionado ao universo cinematográfico, seu mais recente sucesso é o filme de terror/comédia "Killer Sofa", estou falando do Bernie Rao. Nessa entrevista nos conversamos sobre este filme e sobre a sua carreira no geral, foi bem bacana e eu espero que vocês gostem!

Bruna Jones: Antes de falarmos sobre "Killer Sofa", vamos falar um pouco sobre o início de sua carreira. Como você acabou sendo atraído pelo cinema?
Bernie Rao: Eu sempre quis ser artista e viver uma "vida de artista". Comecei a tocar guitarra aos 15 anos e a guitarra tornou-se uma obsessão. Toquei em bandas punk e de metal e eventualmente comecei também a tocar jazz. A certa altura decidi tentar fazer um curso superior de música mas não consegui passar nos exames para entrar na universidade. As minhas escolhas eram limitadas em relação a continuar os meus estudos porque era um péssimo aluno e também não tinha dinheiro. Então alguém me falou para fazer um curso de cinema. Haviam umas bolsas pagas pela União Europeia que ajudavam nas propinas e que ajudavam nas despesas. Candidatei-me a uma bolsa e consegui entrar na escola de cinema. Nunca tinha pegado numa câmara ou até pensado que teria algum talento, mas pensava que eventualmente me poderia tornar um técnico de cinema. Eventualmente percebi que o que gostava de fazer era escrever roteiros.

Bruna Jones: Quais foram as suas inspirações no início de sua carreira?
Bernie Rao: A Escola de Cinema tinha um acordo com a Cinemateca de Lisboa, e haviam descontos para bilhetes, por isso passei três anos a ver todo o tipo de filmes lá. Na Cinemateca descobri Hitchcock, Truffaut, Mamet, Kieslowski, Bergman, Carpenter, Cronenberg, Argento... Eventualmente quem me inspirou a fazer filmes foi o Robert Rodriguez com o seu livro Rebel Without a Crew. Depois de ler o livro percebi que era possível fazer filmes com poucos meios. Mas não havia indústria em Portugal e o cinema estava reservado a elites intelectuais. Sempre me senti um desajustado na Escola de Cinema e naquele momento era muito frustrante não conseguir materializar os meus roteiros em filmes. Em termos de cinema de terror, John Carpenter e Cronenberg foram uma grande influência.


Bruna Jones: Quais foram os principais desafios e dificuldades que você encontrou no início de sua carreira para chegar aqui?
Bernie Rao: Em termos de produção, a minha maior dificuldade ao inicio foi ser muito desorganizado, física e mentalmente. Demorei muitos anos a aprender que para materializar algo tão complexo como uma longa metragem é necessário disciplina, organização e perseverança. Mas o elemento mais importante é paciência. Fazer um filme é uma maratona por vezes dolorosa e chata. Conseguir auto motivar-me também é importante. Hoje em dia é fácil encontrar motivação "online". Dr. YouTube lhe ensinará tudo o que quer aprender, e também é um excelente psiquiatra. Quando comecei a fazer filmes não havia "ajuda online". Senti-me muitas vezes sozinho, sem um mentor que me guiasse no cinema. Acabei por desistir passados uns anos a tentar fazer um longa metragem. Foi então que emigrei para UK e passei uns anos afastado do cinema. Trabalhei em fábricas, museus, em lojas de fast-food. Eventualmente comecei a tocar guitarra na rua e acabei na Nova Zelândia, onde redescobri a paixão pelo cinema. Falando de escrita - durante anos escrevi roteiros que eu não conseguia produzir por mim próprio, e isso era um problema paralisante. O que me levou estar aqui hoje a falar com você foi finalmente ter conseguido escrever histórias que eu conseguisse produzir com os meus próprios meios, ainda que limitados.

Bruna Jones: Na sua opinião, qual é a parte mais difícil ao dirigir um filme?
Bernie Rao: Em termos de realização, a parte mais difícil para mim é não ficar obcecado com pequenos pormenores e ter clareza o suficiente de saber quando consegui o necessário para fazer a cena funcionar na edição. Gosto de trabalhar com atores e sinto-me à vontade no set. O stress vem mais de saber quantos planos faltam filmar e quanto tempo tenho para o fazer. Não gosto de dias longos. Prefiro mais dias de rodagem e mais curtos. Não gosto de "puxar" pelas pessoas ou equipe e atores. Para mim filmar é como que uma festa, temos de passar um bom bocado.

Bruna Jones: Seu sucesso atual é um horror com um toque de suspense e comédia, o "Killer Sofa", no qual você também é roteirista. Como surgiu a ideia para este filme?
Bernie Rao: Este é o tipo de ideias que me dão prazer filmar. Preciso fazer algo original que nunca tenha visto. Também tem muito a ver com a praticabilidade da coisa já que eu sabia que ia produzir o filme. A palavra materializar é importantíssima para mim hoje em dia. Levei muitos anos a pensar em filmes, e pouco foi materializado. Queria fazer um filme de terror com algum tipo de criatura mas não tinha dinheiro para efeitos especiais ou VFX. Achei hilariante a ideia de existir um sofá assassino. O desafio foi tornar essa ideia tão louca em uma longa metragem. O maior desafio foi ter filmado com um sofá real, que era pesado de mover, e limitava muito o que era possível concretizar sem cair no ridículo. Eu queria que o filme tivesse um look profissional para poder distribuir o filme nos mercados.


Bruna Jones: A ideia do filme era completamente diferente de tudo o que nós, fãs do gênero terror, estamos acostumados a assistir, em algum momento você pensou em apostar com mais segurança ao invés de soltar a criatividade?
Bernie Rao: Sim, pensei e escrevi umas ideias para filmes mais sérios. O Killer Sofa era o filme possível de fazer com os meios que tinha naquele momento. Também não queria acabar num found-footage, zombie, ou noutra história de uma mansão assombrada. Não tenho nada contra esses filmes mas já há muitos filmmakers que fazem isso muito bem. Achei que ninguém iria fazer um filme sobre um sofá assassino e fiz.

Bruna Jones: Falando sobre as gravações ... Como estava o clima durante as gravações? Você poderia compartilhar um pouco sobre ou alguma história engraçada que ocorreu durante a gravação?
Bernie Rao: Foi demais. Toda a gente se divertiu imensamente e adorei filmar o filme. Nunca tivemos stress devido também a termos uma equipe muito pequena. Já fiz uns longas antes, por isso da minha parte foi muito calma a realização e produção. Essa calma só me surgiu com a experiência de ter feito outros filmes. Estávamos a fazer uma cena em que a Piimio, a nossa lead, tinha de gritar. E por causa dos gritos chamaram a polícia para a minha casa. Tive de explicar aos polícias que estávamos fazendo um filme... Sobre um sofá assassino. Claro que eles perceberam, afinal de contas é a Nova Zelândia! Vivo e filmei o filme na cidade natal do Peter Jackson.

Bruna Jones: Vários artistas acabam se tornando os maiores críticos de suas próprias carreiras, você também lida com esse problema ou consegue se distanciar quando o material já é produzido?
Bernie Rao: Critico constantemente os meus filmes. Não os consigo ver depois de os terminar. É demasiadamente doloroso e não estou pronto para isso. Tenho orgulho de ter conseguido acabar e distribuir o filme. Isso sim, considero isso uma vitória. Se acho que é um bom filme? O produtor em mim diz que sim, é um filme excelente! O realizador diz que não porque não teve o budget suficiente para fazer o que envisionava, o roteirista em mim está triste porque o realizador mudou a história original. Em termos simples posso dizer que este foi o filme possível com o tempo, material e inspiração que tinha no momento. Espero que as pessoas gostem, era bom.


Bruna Jones: Seu próximo trabalho a ser lançado é o filme "Ina and the Blue Tiger Sauna", você pode nos contar um pouco mais sobre isso? Além deste filme, há mais alguma coisa por vir?
Bernie Rao: Ina and the Blue Tiger Sauna foi uma longa que escrevi e co-realizei com um amigo em Macau chamado António Caetano Faria. O António é um realizador super talentoso e foi um privilégio ter trabalhado com ele neste filme. É um crime-thriller sobre uma adolescente que herda uma sauna do pai que foi assassinado por um mafioso local. A ideia era fazer um filme para o mercado de filmes. Acho que resultou muito bem e vamos lançar o filme no mercado de Berlin este ano. Foi uma batalha conseguir terminar o filme devido a uns problemas que tivemos na rodagem por causa de um tufão que passou por Macau no momento, o que nos levou a ter de adaptar a história substancialmente mas eventualmente chegamos lá. Este ano estou a trabalhar em novos projetos de terror, desta vez mais sérios. Também estou a considerar uma sequencia para "Killer Sofa". Se houver interesse suficiente da audiência irei fazer acontecer e talvez rodarei em Macau. Será que as pessoas gostariam de ver uma sequencia?

Bruna Jones: Antes de terminarmos este bate-papo, você já esteve no Brasil? Você gostaria de vir nos visitar?
Bernie Rao: Nunca fui ao Brasil mas tenho muitos laços com o Brasil. A minha irmã viveu no Brasil durante anos, e tenho muitos amigos brasileiros. Adoro a música e atitude brasileira de encarar a vida. Cresci com novelas da Globo (como o Roque Santeiro) e o Sítio do Pica Pau Amarelo. Gostaria muito de ir ao Brasil e irei ai em breve.

Bem bacana a nossa conversa, não é mesmo? E ele ainda deixou um recadinho antes de ir, olha só: "Por favor vejam o Killer Sofa e se possível divulguem o filme! Isto é um filme minúsculo e não temos dinheiro para o marketing ou promoção. Se possível deixem 10 estrelas no IMDB ;) O filme está com um rating de 2 estrelas em 10, e isso deixa-me um pouco triste. Pelo menos o filme merece 5 estrelas na minha opinião!" e para quem quiser continuar acompanhando o trabalho dele ou entrar em contato, ele também avisa como fazer: "Qualquer coisa podem entrar em contato comigo através do Twitter. Responderei sempre e terei todo o prazer em ajudar outros filmmakers no que conseguir!" para ver seu Twitter é só clicar AQUI.


Espero que vocês tenham gostado da entrevista de hoje, em breve retornarei com novidades. Continuem acompanhando o blog para não perder nenhuma entrevista nova e nem os nossos projetos com o "BBRAU". Lembrando que quem quiser continuar acompanhando mais nas redes sociais, basta procurar no Facebook, Instagram e no Twitter por @odiariodebrunaj, combinado?

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